Insuficiência Cardíaca Terapia Intensiva Cardiológica

Balão Intra-aórtico: noções básicas – parte 3

Uma vez realizada a passagem do balão intra-aórtico (BIA) deve-se realizar uma monitorização diária para buscar possíveis efeitos colaterais do dispositivo.

1) O primeiro passo é a checagem do seu posicionamento, que deve ocorrer imediatamente após sua inserção. A ponta do BIA deve ficar a 2-3 cm após da emergência da artéria subclávia esquerda e acima do local de emergência das artérias renais, para evitar que a mesma seja ocluída com a insuflação intermitente do balão. Essa etapa pode ser feita na própria sala de hemodinâmica, quando for esse o local do procedimento, mas também pode ser feito beira-leito através de ecocardiograma transesofágico ou, de maneira mais acessível, através da radiografia de tórax , conforme demonstramos na figura 1.

projecao-do-bia-em-relacao-a-traqueia

Figura 1: A extremidade distal do BIA possível componente radiopaco , que aparece destacado com um círculo vermelho. A posição ótima do BIA é quando o mesmo fica a nível da carina ou entre o 2 ou 3 espaço intercostal. Neste caso, vemos o adequado posicionamento do dispositivo. Fonte da imagem: arquivo pessoal do autor.

2) Após isso, deve-se buscar ativa e diariamente, a presença de pulso arteriais distais ao local de inserção do BIA, bem como de avaliação da perfusão do membro através da verificação de: dor, palidez e diminuição de temperatura. Qualquer alteração como essa poderá sugerir algo de errado com o dispositivo. Da mesma forma, fique atento ao pulso em artéria radial esquerda. Caso haja diminuição de sua amplitude, esse pode ser um sinal de deslocamento do dispositivo em direção a aorta ascendente de maneira a ocluir o óstio de saída da artéria subclávia.

3) Realize RX Tórax DIARIAMENTE para monitorizar eventual migração do BIA. Outro sinal clínico que possa sugerir mudança de posição do BIA é a diminuição do pulso radial esquerdo.

4) Também busque por sinais de infecção e sangramento do sítio de punção, que poderão ocorrer a semelhança de qualquer outro cateter.

5) Fique atento a piora de diurese e função renal de seu paciente de causa inexplicada, isso poderá ser justificado por posicionamento do BIA de maneira a ocluir a saída das artérias renais e piorar a perfusão renal. Da mesma forma, fique atento ao surgimento de plaquetopenia e anemia hemolítica sem causa aparente.

6) Não deixe o BIA parado mais do que 3 minutos. Se você avalia que o mesmo não é mais necessário ao paciente, retire-o de uma vez! Há estudos em modelos animais demonstrando que com 20 minutos em ‘stand-by’ já ocorre a formação de coágulos peri-BIA

Leitura sugerida:
Flynn,C e cols. Management of Intra-Aortic Ballon Pumps. Seminars in Cardiothoracic and Vascular Anesthesia, 2015. vOL. 19(2) 106-121. Disponível aqui

 

Sobre o Autor

Daniel Valente

Médico com residência médica em Clínica Médica pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e em Cardiologia Clínica pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor-HC-FMUSP). Especialista em Ecocardiografia pelo InCor-HC-FMUSP e pelo Departamento de Imagem Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (DIC-SBC). Doutor em Cardiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Coordenador do Serviço de Ecocardiografia da ONE Laudos.

Deixe um comentário