66 anos, mulher, dor torácica após discussão familiar. Quais hipóteses para esse ECG ?Você mandaria ao CATE ?
* Os comentários virão na semana seguinte acompanhadas de novo desafio.
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Desafio de ECG – Caso 10 – Comentário – Veja o ECG clicando aqui
Ao iniciarmos nosso passo a passo para analisar este traçado, notamos algo “estranho” ao avaliarmos o ritmo. Percebemos uma onda P com característica sinusal precedendo todo complexo QRS, no entanto, ao observamos com cautela, vemos que a cada batimento o intervalo PR vai aumentando progressivamente. Este aumento progressivo culmina em uma onda P bloqueada, ou seja, uma onda P sem estar seguida de um complexo QRS. Observe que há uma pausa após o bloqueio e, após a pausa, o próximo intervalo PR é curto. Este aumentará progressivamente, até um novo bloqueio e por aí vai…
Você lembra deste diagnóstico? Há uma pista no meio do texto: “bloqueio”. Isso nos remonta a um assunto corriqueiro na Cardiologia, os chamados bloqueios átrio-ventriculares.
De forma rápida e didática, os bloqueios atrioventriculares (BAV) são divididos em três grupos:
– BAV 1º grau
Embora alguns autores não gostam deste termo já que não há bloqueio propriamente dito, manteremos a didática. Consiste em um alargamento do intervalo PR > 200ms, sendo que toda onda P é seguida de um complexo QRS, sem onda P bloqueada.
(lembre: intervalo PR é do início da onda P até o início do complexo QRS, dura 120-200ms, o famoso “3 a 5 quadradinhos”).
– BAV 2º grau
Mobitz I: também conhecido como fenômeno de Wenckebach. Este representa o diagnóstico eletrocardiográfico do caso. O intervalo PR vai progressivamente aumentando até ocorrer um bloqueio da onda P (onda P não seguida de complexo QRS). O próximo intervalo PR é curto, o qual aumentará progressivamente até o próximo bloqueio, assim sucessivamente.
Mobitz II: normalmente se apresentam como bloqueio 2:1 ou 3:1, ou seja, há uma onda P que gera um complexo QRS, seguida de uma onda P bloqueada (“uma conduz, outra bloqueia, uma conduz, outra bloqueia”, neste caso, bloqueio 2:1).
Está em dúvida? Meça o intervalo PR antes e depois da onda P não conduzida/bloqueada, eles devem ter o mesmo comprimento!
– BAV 3º grau
BAVT para os íntimos. Neste caso, há uma completa dissociação entre os batimentos atriais (ondas P) e os batimentos ventriculares (complexos QRS). As ondas P aparecem de forma regular (intervalo PP regular), e os complexos QRS também (intervalo RR regular), no entanto sem qualquer relação entre eles. A morfologia/duração do QRS, a frequência ventricular, o intervalo QT e, em última análise, a necessidade ou não de intervenção imediata dependerão de qual região assumirá como ritmo de escape, mas são linhas para próximos textos.