Cardiologia Geral

Prótese Biológica x Mecânica: como escolher ?

Desde a década de 1960, com a primeira cirurgia de troca valvar em humanos houve uma grande evolução dos modelos de próteses.


Uma vez indicada a troca de válvula cardíaca imediatamento surge o questionamento sobre qual tipo escolher: mecânica ou biológica ?
Uma válvula ideal deveria ser durável como uma natural, sem efeito trombogênico, não gerar gradiente, fácil de ser implantada e disponível em todos os tamanhos. Obviamente, ela ainda não foi criada e, assim, temos de trabalhar com o que temos. Ainda assim, a escolha correta para o paciente irá resultar em maior durabilidade da prótese.
De maneira geral, a mecânica tem maior durabilidade e, portanto, em tese, mais tempo ‘livre de cirurgia’ para re-troca. Contudo, às custas da necessidade de anticoagulação com Varfarina por toda a vida. A ausência dessa necessidade, e os pormenores associados a anticoagulação, é justamente a grande vantagem da biológica.
A decisão não é fácil e deve ser partilhada com o paciente e familiares, pois não há um gabarito certo. Sua função é auxiliar na decisão e fornecer os prós e contras de cada opção.

Sendo assim, reunimos aqui situações que favorecem um ou outro tipo:


FAVORECE A ESCOLHA DE PRÓTESE BIOLÓGICA
1) Mulheres em idade fértil que pretendem engravidar
2) Falta de condição social para anticoagulação
3) Falta de estrutura de saúde na localidade onde o doente reside para se coletar/controlar o TP
4) História pessoal de discrasias sanguíneas
5) Pacientes jovens em que o estilo de vida não é favorável a uso de anticoagulantes, seja devido a profissão ou ao fato de não desejarem viver com as certas limitações da anticoagulação ( em relação a atividades esportivas, necessidade de controle do TP, restrições alimentares, etc)
6) Pacientes acima dos 65-70 anos, onde a prótese tende a ter maior durabilidade
7) Pacientes com múltiplas co-morbidades, onde senão espera uma longa sobrevida a ponto de a prótese de deteriorar e necessitar de nova cirurgia
8) Paciente que trabalha com atividades sujeitas a trauma e, assim, sangramento.

FAVORECE A ESCOLHA DA VÁLVULA MECÂNICA
1) Opção do paciente, sobretudo quando menor do que 65-70 anos, uma vez que a maior durabilidade da prótese lhe dará mais tempo livre de cirurgia, ao menos em tese
2) Paciente que já faz uso de anticoagulante por alguma razão. Por exemplo, portadores de fibrilação atrial ou ser portador de valva mecânica e tem FACILIDADE DE SE ATINGIR O INR ALVO. Idealmente, com uma taxa de TP no alvo acima de 70-80% das medidas ( TTR).
3) Boa condição social / entendimento / capacidade de monitorizar automaticamente o TP
4) Ausência de contra-indicação ao uso da Varfarina
5) Risco maior para calcificação/degeneração de prótese biológica: paciente muito jovens, hiperparatireoidismo e/ou insuficiência renal crônica.
6) Pacientes em que o risco de uma segunda abordagem seria muito alto: aorta em porcelana, tórax com irradiação prévia, com deformidade, paciente com osteoporose, usuário crônico de corticóide.

Sendo assim, utilize esses múltiplos parâmetros para decidir, junto a seu paciente, o melhor tipo de prótese a ser implantada.


Leitura sugerida:

How a prosthesis in aortic valve replacement is chosen. An article from the e-journal of the ESC Council for Cardiology Practice Vol. 9, N° 35 – 28 Jun 2011. Disponível aqui

Prosthetic Heart Valves Selection of the Optimal Prosthesis and Long-Term Management Philippe Pibarot, DVM, PhD; Jean G. Dumesnil, MD, FRCP(C). Circulation. 2009;119:1034-1048.
Nishimura et al. 2014 AHA/ACC Valvular Heart Guideline. JACC Vol. 63, No. 22, 2014. June 10, 2014: e57-185

Sobre o Autor

Daniel Valente

Médico com residência médica em Clínica Médica pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e em Cardiologia Clínica pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor-HC-FMUSP). Especialista em Ecocardiografia pelo InCor-HC-FMUSP e pelo Departamento de Imagem Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (DIC-SBC). Doutor em Cardiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Coordenador do Serviço de Ecocardiografia da ONE Laudos.

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