*Por Felipe Mendonça de Santana
Uma
pergunta frequentemente realizada por clínicos e cardiologistas, quando diante
de um paciente com pericardite aguda, é se existe uma doença sistêmica
subjacente responsável pelo quadro, o que pode acarretar decisões terapêuticas
e prognósticos diversos.
pergunta frequentemente realizada por clínicos e cardiologistas, quando diante
de um paciente com pericardite aguda, é se existe uma doença sistêmica
subjacente responsável pelo quadro, o que pode acarretar decisões terapêuticas
e prognósticos diversos.
Em
artigo recentemente publicado no JAMA, demonstra-se que 80 a 90% das pericardites são
caracterizadas como idiopáticas/virais, enquanto as doenças inflamatórias sistêmicas são quantificadas junto com as
síndromes pós-lesão pericárdica (p.ex pós-pericardiotomia), correspondendo
a 3-7% dos casos.
artigo recentemente publicado no JAMA, demonstra-se que 80 a 90% das pericardites são
caracterizadas como idiopáticas/virais, enquanto as doenças inflamatórias sistêmicas são quantificadas junto com as
síndromes pós-lesão pericárdica (p.ex pós-pericardiotomia), correspondendo
a 3-7% dos casos.
Dentre
as doenças inflamatórias sistêmicas, destacam-se dois grandes grupos de doenças
reumatológicas: as doenças do tecido
conjuntivo (“colagenoses”) e as
vasculites sistêmicas.
as doenças inflamatórias sistêmicas, destacam-se dois grandes grupos de doenças
reumatológicas: as doenças do tecido
conjuntivo (“colagenoses”) e as
vasculites sistêmicas.
Das
doenças do tecido conjuntivo, a mais
comumente associada à pericardite aguda é o lúpus eritematoso sistêmico
(LES). Pensando nessa hipótese etiológica, uma coisa deve
sempre vir em mente: dificilmente um LES abre um quadro como uma pericardite
aguda isolada.
doenças do tecido conjuntivo, a mais
comumente associada à pericardite aguda é o lúpus eritematoso sistêmico
(LES). Pensando nessa hipótese etiológica, uma coisa deve
sempre vir em mente: dificilmente um LES abre um quadro como uma pericardite
aguda isolada.
Nos pacientes lúpicos que vêm a desenvolver pericardite aguda,
esta costuma, de fato, estar presente desde o flare inicial, porém raramente é a
manifestação dominante. Sendo assim, em
um paciente assintomático dos demais sistemas (pele, articulações, SNC etc),
sem história reumatológica prévia, sem “penias” no hemograma e com função renal
estável, dificilmente terá como etiologia de sua pericardite um LES.
esta costuma, de fato, estar presente desde o flare inicial, porém raramente é a
manifestação dominante. Sendo assim, em
um paciente assintomático dos demais sistemas (pele, articulações, SNC etc),
sem história reumatológica prévia, sem “penias” no hemograma e com função renal
estável, dificilmente terá como etiologia de sua pericardite um LES.
As
outras duas doenças do tecido conjuntivo associadas à pericardite aguda são a
esclerose sistêmica (ES) e a artrite reumatoide (AR), porém em ambas a
pericardite é considerada uma manifestação incomum.
outras duas doenças do tecido conjuntivo associadas à pericardite aguda são a
esclerose sistêmica (ES) e a artrite reumatoide (AR), porém em ambas a
pericardite é considerada uma manifestação incomum.
Quanto
à pericardite aguda recorrente, não raro são encaminhados ao reumatologista
para investigação de “colagenose”. Se ausente manifestações dos demais
sistemas, a pesquisa de auto-anticorpos (o famoso “reumatograma”) pode
atrapalhar mais do que ajudar. Um estudo interessante, publicado em 2007,
decidiu seguir pacientes com pericardite aguda recorrente, a maioria com
etiologia idiopática, porém alguns com etiologias diversas incluindo
colagenoses, avaliando a positividade do FAN no baseline. Resumindo o estudo,
FAN estava presente em até 40% dos pacientes com pericardite idiopática,
geralmente em baixos títulos, e a sua positividade no início do estudo não
ajudou a diferenciar dentre os poucos que abriram uma colagenose ao longo do
acompanhamento. Ou seja, FAN positivo em pacientes com pericardite
recorrente não significa doença reumatológica.
à pericardite aguda recorrente, não raro são encaminhados ao reumatologista
para investigação de “colagenose”. Se ausente manifestações dos demais
sistemas, a pesquisa de auto-anticorpos (o famoso “reumatograma”) pode
atrapalhar mais do que ajudar. Um estudo interessante, publicado em 2007,
decidiu seguir pacientes com pericardite aguda recorrente, a maioria com
etiologia idiopática, porém alguns com etiologias diversas incluindo
colagenoses, avaliando a positividade do FAN no baseline. Resumindo o estudo,
FAN estava presente em até 40% dos pacientes com pericardite idiopática,
geralmente em baixos títulos, e a sua positividade no início do estudo não
ajudou a diferenciar dentre os poucos que abriram uma colagenose ao longo do
acompanhamento. Ou seja, FAN positivo em pacientes com pericardite
recorrente não significa doença reumatológica.
Das
vasculites sistêmicas, a que mais está associada à pericardite aguda é a
granulomatose eosinofílica com poliangiíte (GEPA, antiga Síndrome de
Churg-Strauss). Apenas a título de recordação, o quadro é constituído por
manifestações de vias aéreas superiores, pneumonite com infiltrados
migratórios, eosinofilia, mononeurite
múltipla e manifestações cardiovasculares. Quinze a trinta por cento das GEPAs
desenvolvem pericardite. Lembramos que, apesar da GEPA ser considerada uma
vasculite ANCA-associada (geralmente p-ANCA), os pacientes com manifestações
cardiovasculares, incluindo a pericardite, são mais frequentemente ANCA
negativos. Ou seja, em pacientes com
pericardite aguda, com outras manifestações sistêmicas e de demais órgãos
compatíveis, a negatividade do ANCA não exclui o diagnóstico de GEPA.
vasculites sistêmicas, a que mais está associada à pericardite aguda é a
granulomatose eosinofílica com poliangiíte (GEPA, antiga Síndrome de
Churg-Strauss). Apenas a título de recordação, o quadro é constituído por
manifestações de vias aéreas superiores, pneumonite com infiltrados
migratórios, eosinofilia, mononeurite
múltipla e manifestações cardiovasculares. Quinze a trinta por cento das GEPAs
desenvolvem pericardite. Lembramos que, apesar da GEPA ser considerada uma
vasculite ANCA-associada (geralmente p-ANCA), os pacientes com manifestações
cardiovasculares, incluindo a pericardite, são mais frequentemente ANCA
negativos. Ou seja, em pacientes com
pericardite aguda, com outras manifestações sistêmicas e de demais órgãos
compatíveis, a negatividade do ANCA não exclui o diagnóstico de GEPA.
Outras
vasculites sistêmicas associadas, em menor intensidade, à pericardite aguda são
a doença de Behçet (úlceras orais, úlceras genitais, uveíte, manifestações
cutâneas) e a poliarterite nodosa (sintomas sistêmicos, artrite/artralgia,
neuropatia periférica, manifestações cutâneas, nefropatia vascular com
múltiplos aneurismas).
vasculites sistêmicas associadas, em menor intensidade, à pericardite aguda são
a doença de Behçet (úlceras orais, úlceras genitais, uveíte, manifestações
cutâneas) e a poliarterite nodosa (sintomas sistêmicos, artrite/artralgia,
neuropatia periférica, manifestações cutâneas, nefropatia vascular com
múltiplos aneurismas).
Em
resumo, as doenças reumatológicas constituem causa infrequente de pericardite
aguda, porém esta é uma manifestação comum de colagenoses e algumas vasculites.
A identificação da doença sistêmica é de
suma importância, pois o tratamento vai diferir das pericardites
idiopáticas/virais (AINEs com ou sem colchicina). Na reumatologia,
geralmente o uso de corticosteroide (em diversos esquemas, que vão desde prednisona oral em dose
moderada à pulsoterapia endovenosa), com imunossupressores, orais ou
endovenosos, compõem o esquema terapêutico.
resumo, as doenças reumatológicas constituem causa infrequente de pericardite
aguda, porém esta é uma manifestação comum de colagenoses e algumas vasculites.
A identificação da doença sistêmica é de
suma importância, pois o tratamento vai diferir das pericardites
idiopáticas/virais (AINEs com ou sem colchicina). Na reumatologia,
geralmente o uso de corticosteroide (em diversos esquemas, que vão desde prednisona oral em dose
moderada à pulsoterapia endovenosa), com imunossupressores, orais ou
endovenosos, compõem o esquema terapêutico.
* Graduado em Medicina pela Universidade Federal de Pernambuco. Médico com residência em Clínica Médica pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Atualmente é residente em Reumatologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Currículo Lattes.
Leitura sugerida:
1) COGHLAN J. G,
SCHREIBER B, D’CRUZ D. P. The heart in rheumatic disease. In:
HOCHBERG M. C. Rheumatology. Sexta
edição. Philadelphia: ELSEVIER, 2015. p. 267-272
SCHREIBER B, D’CRUZ D. P. The heart in rheumatic disease. In:
HOCHBERG M. C. Rheumatology. Sexta
edição. Philadelphia: ELSEVIER, 2015. p. 267-272
2) Imazio M, Gaita F,
LeWinter M. Evaluation and Treatment of Pericarditis: A Systematic Review.
JAMA. 2015 Oct 13;314(14):1498-506
LeWinter M. Evaluation and Treatment of Pericarditis: A Systematic Review.
JAMA. 2015 Oct 13;314(14):1498-506
3) Miloslavsky E, Unizony S.
The heart in vasculitis. Rheum Dis Clin North Am. 2014 Feb;40(1):11-26.Imazio M et al.
Antinuclear antibodies in recurrent idiopathic pericarditis: prevalence and
clinical significance. Int J Cardiol. 2009 Aug 21;136(3):289-93
The heart in vasculitis. Rheum Dis Clin North Am. 2014 Feb;40(1):11-26.Imazio M et al.
Antinuclear antibodies in recurrent idiopathic pericarditis: prevalence and
clinical significance. Int J Cardiol. 2009 Aug 21;136(3):289-93