Com grau menor de evidência, mas ainda sim suportado pelo painel de especialistas, estaria a indicação de meias de compressão pneumática intermitentes (MCPI) também como opção ao uso.
Quando houver risco de sangramento elevado ou alguma contra-indicação a terapia farmacológica, como: plaquetopenia, coagulopatia com INR > 1,5, HAS descontrolada ( PAS > 180 e/ou PAD > 110), úlcera péptica ativa ou sangramento ativo, recomenda-se o uso de MCPI.
Profilaxia farmacológica com HBPM preferencialmente + MCPI (se não houver MCPI no seu serviço, faça uso MEC de média/alta compressão)
Prótese de quadril: profilaxia farmacológica por 35 dias da cirurgia + MEC de média/alta compressão pelo menos período
Prótese de joelho: profilaxia farmacológica por 14 dias da cirurgia + MEC de média/alta compressão pelo menos período. Pode-se extender por até 35 dias a depender do julgamento clínico e número dos fatores de risco adicionais
Caso seja contra-indicado a profilaxia farmacológica: MCPI por 35 dias
Com grau menor de evidência, mas ainda sim suportado pelo painel de especialistas, estaria a indicação de MCPI também como opção ao uso.
Não se recomenda o uso de AAS ou uso de meia elástica compressiva (MEC) de maneira isolada para fins de prevenção. Conduto, sobretudo a meia elástica, pode ser utilizada de maneira adjuvante a profilaxia química.
Em pacientes que não tenham nenhum outro fator de risco para embolismo venoso, recomenda-se apenas a indicação de deambulação o mais precocemente possível.
Na prática:
– Se não há fator de risco a adicional para embolia: deambulação precoce
– Se há fator associado, sobretudo história de TVP/TEP prévio: discutimos junto ao paciente e indicamos profilaxia farmacológica por 7 dias.
– Caso seja contra-indicado a profilaxia farmacológica: MCPI por 7 dias
Figura 1 – Retirado do texto do Projeto Diretrizes sobre profilaxia de embolismo venoso. Disponível aqui |
Outras situações devem ser individualizadas entre equipe médica e paciente.
CIRURGIAS DE COLUNA
Há pouca literatura a respeito de cirurgias da coluna e risco de TEV. A publicação mais importante nesse caso é a da North America Spinal Sugery, de 2009, que pode ser vista aqui
Um dos medos em relação a uso de anticoagulação seria a possibilidade de se desenvolver um hematoma epidural.
As abordagens posteriores para procedimentos menores não parecem ser de baixo risco para TEV e, habitualmente, não requerem profilaxia farmacológica. Em cirurgias maiores, com abordagens combinadas antero-posterior(circunferenciais) ou em pacientes de alto risco – politrauma, neoplasias ou múltiplos fatores de risco para TEV, a profilaxia com medicamentos seria recomendável.
Contudo, não há definição clara e cada caso tem de ser individualizado. Cabe a equipe médica do perioperatório, juntamente ao cirurgião de coluna, pesarem os riscos x benefícios da abordagem.
Na prática:
Em indivíduos saudáveis, sem outras fatores para tromboembolismo venoso ( TEV ) e com cirurgias não-prolongadas e com abordagem posterior: recomenda-se a deambulação precoce, podendo-se associar profilaxia mecânica.
Para indivíduos com fatores de risco adicionais para TEV (vistos na figura 1): considera-se o uso de profilaxia química com HBPM ou HNF podendo ser associados a método mecânico (MCPI ou MEC)
Para indivíduos com fatores de risco adicionais para TEV e que, por peculiaridade cirúrgica, sejam considerados de risco para sangramento, sobretudo hematoma epidural, recomenda-se o uso de método mecânico: MCPI (preferencialmente) ou MEC.
Em todas a situações, quando indicada, a profilaxia mecânica deve ser instituida já no pré-operatório.
A profilaxia farmacológica, quando indicada, deve ser iniciada no pós-operatório, idealmente no primeiro P.O. e, nesse caso, deve-se ter bastante vigilância em relação ao exame neurológico do paciente para rastreio de possíveis alterações secundárias a compressão neural de medula espinhal.
O tempo de profilaxia também não está claro na literatura. Acaba-se fazendo até a alta hospitalar ou prolongando-se a critério da equipe por período a ser determinado caso-a-caso.
CIRURGIAS DE RESSECÇÃO DE TUMOR ÓSSEO
O mix de ‘cirurgia ortopédica associado a cirurgia oncológica’ gera um alerta vermelho em relação ao risco de embolia venosa. Qual conduta então em relação as cirurgias para ressecção de tumores ósseos? Por incrível que pareça, essa é uma pergunta difícil de ser respondida atualmente pelo pouco número de estudos e pacientes envolvidos em pesquisas clínicas, haja vista que os tumores do sistema ósteo-musculares não são tão comuns. A própria epidemiologia da embolia venosa nesse cenário ainda está ‘engatinhando’.
Não há nenhuma recomendação clara envolvendo especificamente esse tipo de paciente em nenhuma diretriz nacional ou internacional vigente. Muito do que se tem feito acaba vindo extrapolado do contexto de pacientes oncológicos, sobretudo os guidelines da ASCO – American Society of Clinical Oncology.
Nesse cenário, não estão aprovados nenhum novo anticoagulante oral. As opções recaem sobre as heparinas: HBPM (preferencialmente) ou Heparina Não-Fracionada.
O uso concomitante de métodos mecânicos de profilaxia é recomendado, sobretudo quando risco cirúrgico for aumentado.
Na prática:
– Enquanto internado: HBPM + MCPI (se não houver MCPI no seu serviço, faça uso MEC de média/alta compressão)
– Após a alta: HBPM até se completar 14 dias da cirurgia + MEC de média/alta compressão por igual período. Em pacientes com múltiplos fatores de risco para embolismo venoso, submetidos a cirurgias de ressecção de tumor em quadril ou procedimentos de longa duração, deve-se individualizar caso-a-caso e considerar extensão da profilaxia por 4 semanas.
– Caso seja contra-indicado a profilaxia farmacológica: MCPI ( se não houver MCPI no seu serviço, faça uso MEC de média/alta compressão ) pelo mesmo período acima recomendado.
MEIA DE COMPRESSÃO PNEUMÁTICA INTERMITENTE (MCPI) É A MESMA COISA DE MEIA ELÁSTICA COMPRESSIVA (MEC)?
Não! Quando nos referimos as MCPI durante esse texto estamos abordando é um dispositivo que gera pulsos intermitentes de ar comprimido para insuflar seqüencialmente múltiplas câmaras em perneiras acopladas ao doente, iniciando-se no tornozelo e
movendo-se através das pernas em direção à coxa. O sistema promove compressões a intervalos pré-estabelecidos de maneira a adequar o tempo para reabastecimento do retorno venoso
conforme a necessidade do paciente, através de um sensor presente na perneira. Eles existem em forma portátil e, para serem considerados efetivos, devem ter sensor de uso adequado – indicando o correto posicionamento do aparelho junto ao corpo do doente – e devem ser utilizados pelo menos 18h durante o dia. O aparelho é colocado, quando possível, horas antes do início da cirurgia e são utilizado continuamente até quando cesse o período indicado de profilaxia. Naturalmente, para procedimentos ortopédicos de membros inferiores, a compressão inicia-se no pós-operatório. Devem ficar juntos ao paciente sempre que estiver em repouso, devendo ser retirados sempre que doente estiver deambulando.
Custo: em uma faixa de 300-500 reais
As meias elásticas de compressão tem muito menos evidência de literatura em relação as MCPI. Contudo, parecem ter efeito na redução de eventos de embolia venosa, mas em menor grau que as MCPI. Sendo assim, só seriam indicadas quando não houvesse nenhuma possibilidade do uso de MCPI . Nesse cenário, indicamos meias de média (18-21 mmHg) ou alta (20-30 mmHg) compressão.
Ilustração de um modelos de MPCI. |
Ilustração de um modelo de meia elástica compressiva. Fonte: imagem da internet aqui |
HBPM – Enoxaparina:
HBPM – Dalteparina:
5000 Unidades 12 h antes da cirurgia e depois 5000 Unidades 1x ao dia
Heparina Não-Fracionada:
5000 Unidades 12 h antes da cirurgia e depois 5000 Unidades 3x ao dia
Fondaparinux:
Inicia-se na dose de 2,5 mg cerca de 6-8 horas após o procedimento.
Dabigatrana:
Inicia-se de 1 a 4 horas após a cirurgia na metade da dose, com 110 mg. No dia seguinte. deixa-se a dose de 220 mg 1xd. Em pacientes
com disfunção renal moderada, pacientes acima de 75 anos
e naqueles recebendo amiodarona, preconiza-se reduzir a
dose padrão para 150 mg/dia (dose inicial de 75 mg, seguida
da dose padrão de 150 mg, uma vez ao dia).
Rivaroxabana:
Inicia-se após uma adequada hemostasia. Habitualmente a o medicamento é feito de 6-10h após o procedimento.
Apixabano:
Fazer 2,5 mg iniciando-se de 12-24h após terminada a cirurgia.
Para mais detalhes dos novos anticoagulantes veja aqui
EXPECTATIVAS
Nos próximos anos, os anticoagulantes orais devem ganhar cada vez mais espaço nesse cenário a medida que o uso mais abrangente e novos estudos avaliando sua segurança e eficácia, incluindo número maior de doentes, sejam realizados. As novas diretrizes a serem lançadas devem aumentar o elenco de procedimentos em que esses fármacos serem recomendados.
Surgery Patients. Antithrombotic Therapy and Prevention of Thrombosis,
9th ed: American College of Chest Physicians
Evidence-Based Clinical Practice Guidelines – 2012. Disponível aqui
Recomendações do National Guideline Clearinghouse sobre embolia venosa em cirurgias ortopédicas. Disponível aqui
Venous
Thromboembolism Prophylaxis and Treatment in Patients With Cancer:
American Society of Clinical Oncology Clinical Practice Guideline Update
2014 Disponível aqui e também aqui
Prevention of venous thromboembolic disease in surgical patients em uptodate.com/online acessado em set/2015. Disponível aqui
Risk and prevention of venous thromboembolism in adults with cancer em uptodate.com/online acessado em set/2015. Disponível aqui
Incidence of Venous Thromboembolism after Elective Knee
Arthroscopic Surgery: A Historical Cohort Study J Thromb Haemost. 2013 July ; 11(7): . doi:10.1111/jth.12283. Disponível aqui
Real-world data confirm clinical trial outcomes for rivaroxaban iorthopaedic patients. Real world data confirm clinical trial outcomes for rivaroxaban in orthopaedic patients. Curr Orthop Pract. 2015. May; 26(3): 299-305. Disponível aqui
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Oliveira L e cols. Atualização em tromboprofilaxia em cirurgias eletivas da coluna vertebral. Revisão sistemática.Coluna/Columna. 2014; 13(2):143-6 Disponível aqui
North America Spine Surgery Clinical Guidelines – Antithrombotic Therapies in Spine Surgery. 2009. Disponível aqui