F.O. do paciente. O lado cranial é o lado esquerdo e a direita encontra-se a região mais caudal. Foto: arquivo pessoal do autor |
1) Quanto tempo da cirurgia ?
2) Quanto tempo da alta hospitalar ?
3) Houve algum complicação infecciosa durante sua internação ?
4) Quais os antibióticos que fez uso e qual último dia de aplicação ?
5) Quais co-morbidades do doente ?
6) A palpação: há amolecimento e/ou instabilidade do esterno?
7) Há sinais de acometimento sistêmico e alterações na hemodinâmica do doente ?
Usando essas informações podemos definir 3 cenários clínicos:
1) Infecção apenas limitada a ferida operatória
2) Sinais sistêmicos, mas sem sepse
3) Sepse grave ou presença de choque séptico
Em relação aos tipos possíveis de infecção temos:
1) Limitada a tecido superficial – pele, subcutâneo e músculo: o esterno é estável a palpação. Contudo, na presença de sinais sistêmicos, como febre e calafrios, associados a drenagem importante de secreção, mesmo com esterno estável, deve-se suspeita de infecção profunda.
2) Infecção profunda ou Mediastinite: essa situação pode partir de uma infecção de tecido superficial penetrando área mediastinal ou resquício de contaminação intraoperatória. Paciente apresenta-se com sinais sistêmicos infecciosos, podendo, ou não, ter infecção superficial adjacente. É um quadro grave, com mortalidade alta que requer pronta intervenção.
3) Deiscência de esterno: trata-se da separação das bordas do esterno, podendo ocorrer independente de infecção superficial. Paciente queixa-se dor esternal e pode ter a sensação de ‘clique’. No exame físico, coloca-se a mão, exercendo leve pressão, em cada hemitórax e pede-se para o paciente tossir, isso irá causar um barulho característico da movimentação de uma aresta esternal em contato com a outra, chamada de ‘clique’. Essa situação é uma emergência cirúrgica, pois há risco iminente de perfuração ventricular por algum fio de aço ou mesmo por resquícios ósseos esternais.
Alguns autores preferem abordar as infecções de esternotomia usando a classificação de Pairolero, que divide a infecção baseada no tempo de surgimento e seus aspectos clínicos, apresentada abaixo:
Tipo 1:surge geralmente na primeira semana após o procedimento formando secreção sero-sanguinolenta, mas sem celulite ou outros sinais de complicação associadas. Geralmente manejadas com antibióticos via oral e, eventualmente, alguma abordagem cirurgia.
Tipo 2: tipo mais prevalente, ocorrendo na 2-4 semana de P.O. podendo ter a presença de secreção purulenta, celulite, mediastinite, quadro de osteomielite e, mais raramento, costocondrite. Tratamento, além de antibioticoterapia, envolve debridamento de todo tecido necrótico e cartilagem envolvida. Drenos de sucção e uso de musculatura para peitoral também são opções.
Tipo 3: ocorre tardiamente, meses a anos, após o procedimento. Raramente com mediastinite presente, mas áreas de celulite localizada, osteomielite, costocondrite e presença de corpo estranho são frequentes. Necessitam de debridamento ativo e repetido. Após esterelização do tecido, técnicas de sucção e enxerto musculares são opções.
Classificação de Pairolero – Disponível para acesso aqui |
De rotina deve-se coletar material da ferida operatória para cultura, coleta de 2 pares de hemocultura, exames gerais de bioquímica, PCR e hemograma e realizamos TC de Tórax com contraste.
A TC Tórax tem por objetivo detectar alterações em tecido operatório mais profundo. A presença de separação esternal, má fixação, erosão óssea, pseudo-artrose que podem sugerir deiscência. A simples presença de coleção retroesternal, principalmente quando em pós-operatório recente é inespecífica e na maioria das vezes não tem significado patológico.
Em nosso serviço, após avaliação inicial do cardiologia clíncia, tanto a cirurgia cardíaca quando o serviço de cirurgia plástica são convocados para definir sobre a necessidade de procedimentos cirúrgico associado.
De maneira geral as feridas superficiais são manejadas com antimicrobianos associado a cuidados de locais da F.O e evoluem bem em longo prazo, a mediastinite requer antimicrobiano endovenoso associado a debridamento cirúrgico agressivo e a deiscência de esterno é de tratamento cirúrgico
Leitura sugerida:
Overview and Management of Sternal Wound
Infection. SEMINARS IN PLASTIC SURGERY/VOLUME 25, NUMBER 1 2011. Disponível aqui
Surgical management of sternal wound complications. Acessado em Set/2015 em uptodate/online Disponível aqui
Treatment of sternal wound infections after
open-heart surgery. Asian Journal of Surgery (2014) 37, 24e29. Disponível aqui
Pailorelo e cols. Long-term results os pectoralis major muscle transposition for infected sternotomy wounds Disponível aqui