Dentre os dispositivos de assistência ventricular utilizados nas UTIs de nosso país, certamente um dos mais utilizados trata-se do Balão intra-aórtico (BIA). Portanto, um conhecimento básico sobre o seu funcionamento é habilidade fundamental para os médicos que atuam na assistência ao paciente crítico cardiológico. Atualmente, seu uso encontra nicho em paciente como assistência ventricular em casos de ponte para transplante cardíaco, em casos graves de choque cardiogênico e em insuficiência cardíaca de causa potencialmente reversíveis.
Este dispositivo trata-se de um cateter no qual é acoplado um balão que irá realizar um processo de insuflação e desinsuflação dinâmico durante o período da diástole ventricular com o objetivo de atingir três objetivos fundamentais:
- Redução do consumo de O2 miocárdico.
- Aumento da pressão de perfusão das coronárias.
- Diminuição da pós-carga ventricular e, assim, melhorar seu desempenho.
CONTRA-INDICAÇÕES
Tão importante quanto avaliar o cenário de indicação é buscar por contra-indicações ao dispositivo, enumeradas abaixo:
- Insuficiência aórtica pré-existente de moderada a grave
- Dissecção aguda de aorta
- Sepsis grave/Choque séptico ou choque de etiologia não-cardíaca
- Diástese hemorrágica importante
- Doença arterial periférca grave
- Infecção cutânea no local da passagem
PASSAGEM
Habitualmente a sua colocação ocorre via percutânea através da punção de artéria femural. Em geral, prefere-se a que tenha melhor palpação de pulso e, se possível, quando disponível exame específico, aquela com sabidamente o maior diâmetro. Essa passagem pode ser realizada beira-leito, quando dificuldade de transporte para sala de hemodinâmica, mas, idealmente, deve ser feita guiada por escopia no laboratório de cateterismo. O balão deve ficar localizado 2-3 cm antes da saída da subclávia esquerda e acima das artérias renais.
ESCOLHA DO VOLUME DO BALÃO
A escolha do volume de cada BIA depende da altura do paciente, habitualmente deve-se seguir a recomendação de cada fabricante, mas habitualmente temos:
- < 152 cm = 25-30 ml
- 152 – 163 cm = 34 – 40 ml
- 163 – 183 = 40 – 50 ml
- > 183 cm = 50 ml
A escolha deve ser feita no sentido de que o diâmetro máximo do balão não ultrapasse 90% do diâmetro da aorta do paciente.
GÁS PREFERENCIAL: HÉLIO
O gás hélio reúne propriedades que o fazem uma ótima escolha para ser o veículo de insuflação/desinsuflação (I/D) nos BIA. Sua baixa densidade ( 5% da densidade do CO2) minimiza a resistência do sistema, o que permite que a I/D ocorra de maneira rápida. Além disso, o hélio é metabolicamente inativo e se dissolve rapidamente no sangue, o que minimiza o risco de embolia aérea.
TEMPO DE USO
Não há tempo mínimo ou máximo de uso do mesmo dispositivo e nem recomendação de troca rotineira do aparelho a partir de determinado período. Deve-se sempre reavaliar diariamente a necessidade de seu uso e sua retirada só deverá ocorrer mediante alguma evidência clara de complicação relacionada ou quando o quadro clínico do doente não requerer mais o auxílio hemodinâmico do BIA. Quando há expectativa de uso prolongado ( > 10-14 dias) e, se o seu serviço dispõem de experiência cirúrgica apropriada, pode ser aventada a hipótese de inserção por sítio axilar, ao invés de femural.
O BIA
O BIA é formado por um conjunto pelo formado pelo cateter propriamente dito e um console de comando, onde estará exposta uma tela com os gráficos do ECG, curva de pressão arterial e dados sobre a insuflação/deflação do balão e dados hemodinâmicos complementares, quais sejam, frequência cardíaca, pressão arterial sistólica (PAS), pressão arterial diastólica (PAD), pressão arterial média (PAM), pressão de aumento diastólico e alarmes. Veja na sequência de fotos o exemplo de um console de comando de um BIA da marca Datascope CS 100. Observe o detalhe o aspecto de sua tela e, em destaque, o cilindro de gás hélio.
Leitura sugerida:
Flynn,C e cols. Management of Intra-Aortic Ballon Pumps. Seminars in Cardiothoracic and Vascular Anesthesia, 2015. vOL. 19(2) 106-121. Disponível aqui