O cateterismo cardíaco acima demonstra uma complicação infrequente, porém com alta mortalidade caso não reconhecida precocemente: a temida perfuração coronariana. A imagem evidencia extravasamento de contraste/sangue da artéria descendente anterior após passagem de fio-guia para tentativa de angioplastia.
A prevalência desta complicação varia entre 0,5-3%, dependendo de algumas características do paciente, da complexidade da lesão coronariana (principalmente oclusões crônicas) e da experiência/material do laboratório de hemodinâmica. A mortalidade intra-hospitalar é de aproximadamente 10%.
Os principais fatores de risco para a perfuração coronariana são: sexo feminino, idade ≥ 70 anos, angioplastia com balão ou stent de tamanho superior a lesão, pós-dilatação excessiva, uso de cateteres hidrofílicos e dispositivos com ateroablação (muito utilizados em placas calcificadas).
A classificação de Ellis, proposta em 1994, é a mais utilizada e está relacionada diretamente com a apresentação clínica e o prognóstico da perfuração.
Tipo I: orifício extra luminal sem extravasamento de contraste;
Tipo II: blush miocárdico/pericárdico sem extravasamento de contraste;
Tipo III: com extravasamento de contraste por uma perfuração de pelo menos 1mm (com uma subclassificação quando o extravasamento é direto para o seio coronariano, átrio ou ventrículo).
A manifestação clínica pode ser benigna após o implante de stent nos casos do tipo I, variando até o tamponamento pericárdico nos tipos II ou III. O tratamento consiste no rápido reconhecimento para então proceder com a reversão da anticoagulação, insuflação prolongada com balão e se possível implante de stent revestido, além da pericardiocentese após a detecção de tamponamento pericárdico. Nos casos refratários, cirurgia cardíaca pode ser necessária, que consiste basicamente na drenagem pericárdica em conjunto com a tentativa da oclusão do orifício de perfuração com material específico.
Referências:
Lemmert, Miguel E. et al. Clinical characteristics and management of coronary artery perforations: a single‐center 11‐year experience and practical overview. Journal of the American Heart Association, v. 6, n. 9, p. e007049, 2017.