A recém lançada Atualização das Diretrizes Brasileiras de Valvopatias (2020) mantém um formato inovador na avaliação dos pacientes com doença valvar ao demonstrar passos sequenciais a serem seguidos pelos médicos responsáveis pela avaliação do paciente com suspeita de valvopatia e apresentá-los de maneira que o raciocínio clínico a ser seguido possa ser utilizado em todos os cenários de pacientes com doença valvar:
- Primeiro passo: DEFINA se a valvopatia é anatomicamente importante ou não (critérios clínicos e de exames complementares). Se for, prosseguir para o passo adicional. Caso contrário, busque outra explicação para eventuais sintomas do seu paciente.
- Segundo passo: DEFINA a etiologia (história clínica, antecedentes, achados dos exames de imagem). A depender da etiologia as opções terapêuticas podem ser diferentes. Por exemplo, em paciente com estenose mitral importante secundária a calcificação do anel mitral a terapia por valvoplastia por balão não é adequada, diferente do que seria esperado para estenose mitral reumática.
- Terceiro passo: AVALIE os sintomas. O paciente é sintomático? O paciente ‘não tem sintomas’ por auto-limitação, ou seja, diminui, até mesmo inconscientemente, seu nível de atividade para se adaptar a restrição de débito cardíaco ocasionada pela valvopatia? Em algumas situações podemos lançar mão de exames complementares (teste ergométrico, teste ergoespirométrico, etc) para melhor avaliação desses pacientes.
- Quarto passo: BUSQUE complicadores. Há sinais de repercussão da valvopatia, por exemplo, hipertensão arterial pulmonar, disfunção diastólica, aumento atrial, presença de arritmias, dilatação da aorta, função ventricular, strain longitudinal do ventrículo esquerdo, diâmetros cavitários, dentre outros. A presença de complicadores, mesmo em pacientes assintomáticos, é crucial na determinação do correto tempo de intervenção. O conceito de ‘dano valvar acumulado’, ou seja, observar o coração além da valvopatia é fundamental para o entendimento da fisiopatologia da doença e auxilia na estratificação do risco individual do paciente.
- Quinta passo: DEFINA o tipo de intervenção. A definição de conduta é importante, dado a ampla gama de possibilidades atuais. Tratamento cirúrgico, intervenção percutânea ou mesmo seguimento clínico (a depender das condições do doente e de suas preferências, bem como expertise do centro local e acesso à tecnologia).
Leitura sugerida:
Atualização das Diretrizes Brasileiras de Valvopatias – 2020. Disponível aqui.