Um dos maiores motivos de procura ao cardiologista no consultório é a busca por prevenção primária, ou seja, indivíduos aparentemente saudáveis, sem doença cardiovascular manifesta que desejam orientações a respeito de uma vida mais saudável, sobre mudanças no estilo de vida e, eventualmente, alguma terapia farmacológica para diminuição do risco de eventos cardiovasculares futuros.
Sendo assim, a avaliação do risco cardiovascular e a promoção de saúde e bem estar dos pacientes é uma atribuição do cardiologista e deve ter uma abordagem padronizada.
Explicamos nesse post como realizar essa avaliação em 6 passos simples e sequenciais:
- Primeiro passo: – Buscar fatores de risco tracionais para doença cardiovascular (DCV): presença de hipertensão arterial sistêmica, obesidade, sedentarismo, tabagismo, história familiar de DCV na família (sobretudo em irmãos e pais), diabetes, alterações nas taxas de colesterol, etc.
- Segundo passo: – Utilize ferramentas de predição de risco cardiovascular para tentar transformar o seu senso de risco em algo mais objetivo (lembrando que a impressão subjetiva é importante e, em caso de dúvida, tem papel fundamental na determinação da conduta junto ao paciente/família). Há várias ferramentas disponíveis e não pode-se falar em uma ‘superioridade’ de uma sobre a outra. Cabe ao cardiologista o conhecimento das vantagens e desvantagens de cada uma para determinar a que melhor se encaixa em seu paciente. Particularmente, considerando a facilidade de uso, gostamos do uso do ASCVD Risk Estimator +, promovido pelo American College of Cardiology (que pode ser acessado aqui), é uma calculadora de risco para ser utilizada em população adulta, com foco naqueles indivíduos entre 40 – 79 anos e fornece, de uma maneira simples, o risco estimado de eventos cardiovasculares maiores (morte CV, IAM não-fatal, AVC fatal e não-fatal) em 10 anos, além de também fornecer, para aqueles indivíduos entre 40-60 anos, um risco de eventos ao longo da vida (estimativa de eventos em 30 anos). De maneira simplificada, ele irá dividir a população em 4 grupos de risco baseado na estimativa de eventos em 10 anos: a) < 5% (baixo) b) 5-7,5% (limítrofe) c)7,5-20% (intermediário) e d)> 20% (alto risco).
- Terceiro passo: – Após a definição do risco utilizando a ferramenta de sua preferência, naqueles indivíduos do grupo intermediário, busque por situações consideradas de alto risco CV cuja presença e o impacto não é adequadamente mensurada pelas calculadoras. A presença de uma dessas condições irá resultar em uma discussão médico/paciente no sentido de se elevar a categoria de risco do doente. Por exemplo, se o paciente estava numa categoria intermediária, a presença de um dos fatores de risco adicionais irá elevar seu risco CV e, portanto, poderá ensejar medidas adicionais de proteção CV (observe a tabela abaixo):
- Quarto passo: nesse momento cabe realizar um juízo de valor considerando o risco estimado pelas calculadoras de risco + a presença dos fatores de risco associados (‘risk enhancing factors’) e, então, ponderar o risco CV individualizado para cada situação.
- Quinta passo: uma vez definido o risco CV individualizado, o médico deverá engajar o paciente numa discussão a respeito dos dados médicos apresentados.
- Sexto passo: por fim, após extensa discussão com o paciente e tendo em mente as recomendações das diretrizes/guidelines mais atuais, deve-se atuar na mitigação do risco CV com medidas que vão desde a promoção de hábitos alimentares mais saudáveis, aumento de atividade física até a prescrição de medicações com esse foco, como, por exemplo, estatinas.
Leitura sugerida:
- The art of cardiovascular risk assessment. Clin Cardiol. 2018 May; 41(5): 677–684.