Durante décadas a única opção terapêutica para prevenção de eventos tromboembólicos em pacientes portadores de FA era restrita aos antagonistas da vitamina K, com destaque para a varfarina. Contudo, essa fármaco começou a perder um pouco de espaço com a chegada dos atualmente denominados anticoagulantes orais diretos (AOD)/ anticoagulantes não inibidores de vitamina K / novos anticoagulantes orais (NOACs) – rivaroxabana, dabigatrana, apixabana e edoxaban – e as suas várias vantagens (menor interação alimentar e medicamentosa, uniformização da prescrição, sem necessidade de controle por exames).
Em um grupo de pacientes, no entanto, ainda não há evidências de que essas novas drogas sejam seguras: os portadores de ‘FA Valvar’.
Peço então que agora você pare um instante e pense com calma: quem são os pacientes que são portadores de FA Valvar? Por exemplo, um indivíduo com prolapso mitral seria incluso nesse grupo de pacientes? E se fosse alguém FA e valva aórtica bicúspide?
Qual sua resposta?
Em artigo publicado em agosto de 2016, no American Heart Journal, Martis, RP e cols tentam trazer a evidência mais atual que se tem sobre o tema.
As definições dos indivíduos portadores de FA valvar variam de acordo com os diferentes critérios de inclusão e exclusão dos estudos avaliando essas novas drogas (veja tabela 1):
- RE-LY: Dabigatrana – inibidor do fator IIa
- ROCKET-AF: Rivaroxabana – inibidor da Xa
- ARISTOTLE: Apixabana – inibidor da Xa
- ENGAGE-AF: Edoxabana – inibidor da Xa
Além disso, as definições das principais sociedades a respeito do tema são conflitantes:
- ESC – 2012: FA associada a doença valvar reumática (sobretudo estenose mitral) ou associadoa válvula mecânica.
- AHA – 2014: FA associada a estenose mitral reumática, valva mecânica ou bioprótese e reparo valvar mitral.
- EHRA – 2015: FA associada a prótese mecânica ou a estenose mitral moderada ou severa. Pacientes com válvula biológica ou história de reparo valvar seriam área cinzenta e potenciais candidatos ao uso dessas medicações, desde que seguido algum período entre o procedimento e o início do seu uso, caso necessário.
Portanto, urge a necessidade de uma maior uniformização na definição dessa condição de maneira que o clínico que está ‘na linha de frente’ não impeça determinado paciente faça uso da medicação baseado em algum conceito errado que, eventualmente, o tenha levado a classificar o doente como portador de contra-indicação aos AOD/NOACs
Essa situação é muito frequente no dia a dia do consultório de muitos médicos que acreditam que a presença de qualquer lesão valvar seria uma contra-indicação ao uso dessas medicações.
No fim das contas, a luz do conhecimento atual, as patologias valvares em portadores de FA que contra-indicariam o uso das novas drogas seriam:
ABSOLUTA
- Estenose mitral moderada a severa
- Pacientes portadores de válvulas mecânicas
RELATIVA (veja esquema abaixo)
- Pacientes que tiveram troca valvar aórtica percutânea por TAVI
- Reparo de valva mitral
- PO de colocação de prótese valvar biológica
Por fim, veja abaixo um esquema proposto pelos autores para lhe auxiliar sobre a presença, ou não, de contraindicação do uso de AOD/NOACs para tratamento de FA, uma vez indicada a anticoagulação.