Você atende uma paciente de 34 anos, 2 filhos, com quadro de insuficiência cardíaca com fração de ejeção (FE) reduzida (último ecodopplercardiograma com FE de 32%), atualmente em classe funcional de NYHA II. A paciente é casada e mantém vida sexual ativa. Ela quer saber os possíveis riscos de uma nova gravidez em seu contexto atual e quais as opções em relação a anticoncepção.
Dentro das atribuições do médico cardiologista está a orientação sobre planejamento familiar, sobretudo no aconselhamento pré-gestacional e/ou sobre métodos contraceptivos de maneira a evitar a gestão potencialmente arriscada para sua paciente.
Há várias formas de graduar o risco da gestante cardiopata, uma das mais utilizadas é a classificação Organização Mundial de Saúde modificada (WHO m) recomenda a classificação da gestante de acordo com o risco potencial de gravidez de acordo com o seu tipo de patologia. Essa classificação gradua a gestante em 4 níveis, sendo o nível I com mortalidade materna em torno de 2.5-5% até o nível IV, com mortalidades podendo chegar a níveis tão altos quanto 100%.
No caso em específico, por exemplo, a paciente poderia ser classificada como nível III, onde se incluem as pacientes com IC e FE entre 30-40%. Nesse grupo, a mortalidade esperada fica em uma faixa de 19-27% (veja na foto abaixo). Portanto, com altíssimo risco à paciente. Logo, uma gestação nessa condição deveria ser, a princípio, desaconselhada, ainda mais levando em consideração o fato de a paciente já ter prole constituída. Caso a paciente insistisse, mesmo sabendo seu risco, deveria ser encaminhada a centro específico de gestação de risco com acompanhamento individualizado.
Em relação a metodologia de contracepção deve-se recomendar os métodos de barreira (como preservativos) como opção a ser realizada, mas características relacionadas a adesão das pacientes podem fazer com que, na prática, não tenha a eficácia almejada. Por isso, a associação com métodos hormonais deve ser discutida. Nesse contexto, anticoncepcionais compostos por doses baixas de progestágenos ou o dispostivo intra-uterino (DIU) recoberto com progesterona são boas opções. Deve-se evitar anticoncepcionais compostos com estrógenos pelo seu maior risco trombogênico. Metodologias de esterilização cirúrgica feminina (ligação tubária) ou masculina (vasectomia) também podem entrar no leque de opções, embora a cirurgia, no caso das mulheres e, a depender da sua patologia de base, não seja isenta de riscos. Por isso, há necessidade de inividualização junto ao colega ginecologista e às preferências da paciente.
Para uma leitura mais aprofundada sobre o assunto recomendamos a leitura da Diretriz da Sociedade Européia de Cardiologia sobre o tema que está disponível no link abaixo.
Leitura sugerida:
2018 ESC Guidelines for the management of cardiovascular diseases during pregnancy