Cardiologia Geral

Como interpretar o modo de operação de um dispositivo cardíaco eletrônico implantável (DCEI) ?

Na avaliação de um paciente portador DCEI, nas suas diversas possibilidades ( MP, CDI, Ressincronizador,..) foi criada uma padronização de números e letras que conseguem facilitar a comunicação entre os profissionais de saúde.
Esse padrão consta em uma sequência de 5 Letras/Números na seguinte sequência:
1) Qual a câmara está sendo estimulada:
– A: Átrio V: Ventrículo D: Átrio + Ventrículo 0: Nenhuma
2) Qual câmara está sendo sentida ( ou seja, qual câmara o dispositivo está, de fato, ‘enxergando’ e usando como dados para tomar a conduta programada ):
– A: Átrio V: Ventrículo D: Átrio + Ventrículo 0: Nenhuma
3) Qual a ação do dispositivo ao sentir o disparo da câmara ?
– T- ‘Trigger’ ou disparo   I – inibição   D: pode executar as duas funções 0 -Nenhuma ação
4) Refere-se a capacidade de variabilidade de aumento de frequência cardíaca ( esse tema será discutido melhor em outro post )
– R: Tem essa possibilidade  0: não tem
5) Presença de estimulação multissítio – quer apenas deixar claro se há mais de um eletrodo em alguma região cardíaca. Nos ressincronizadores há um eletrodo em cada ventrículo, por isso, são chamados de dispositivos biventriculares.
– A: quando há mais de um eletrodo no átrio V: mais de um na região dos ventrículos 0: quando não existe estimulação multissítio
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Visto esse concento inicial vamos a interpretação de alguns exemplos:
Como seria a denominação de um MP transvenoso passado na sala de urgência em um paciente no contexto de BAVT ?
Por ordem:
1) Só há uma câmara a ser estimulada, pois só há 1 cabo eletrodo. Essa câmara é o ventrículo direito.
Sendo assim, a primeira letra é V
2) Da mesma forma, por estar no VD, essa é a única câmara que pode ser sentida:
Sendo assim, a segunda letra é V
3) Nesse caso, a ação do marcapasso ao sentir o dispositivo é a de se ‘inibir’ para permitir que a despolarização ocorra por conta do próprio tecido miocárdico.
Sendo assim, a terceira letra é I.
4) Não se aplica. Pois não tem essa função.
Sendo assim, a 4 letra é 0
5) Não se aplica, pois só há estimulação de 1 sítio.
Sendo assim, a quinta letra é 0

Assim sendo, poderíamos dizer que o modo de operação de um MPTV é um VVIOO ou simplesmente VVI, deixando implícito que, se não foi descrito a função 4 e 5 é porque elas não existem.

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DDD: trata-se de um modo de funcionamento que: estimula A e V, sente A e V, ao sentir pode tanto se inibir quanto disparar estímulo e não executa as funções de variabilidade de frequência ou multicameral/multissítio

D00: esse marcapasso está estimulando A e V em modo assincrônico, ou seja, ele não está sentindo nenhuma das câmaras e, por não senti-las, não tem nenhuma atitude em relação a elas. Sendo assim, ele está ‘batendo’ em uma FC estabelecida por nós. Esse é o modo de funcionamento que um marcapasso pode ficar, por exemplo, quando colocamos um imã potente próximo ao gerador do marcapasso ou mesmo quando o paciente vai ser submetido a uma cirurgia utilizando bisturi.

AAI: estimula o átrio, sente o átrio, ao sentir o átrio ele se inibe e permite que o próprio átrio comande o batimento.

DDDRV: estimula A e V, sente A e V, tanto pode se inibir ou disparar, executa função de variabilidade de frequência e tem estimulação de sítio em região ventricular. Alguns chamam de dispositivo ABiv.

Sobre o Autor

Daniel Valente

Médico com residência médica em Clínica Médica pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e em Cardiologia Clínica pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor-HC-FMUSP). Especialista em Ecocardiografia pelo InCor-HC-FMUSP e pelo Departamento de Imagem Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (DIC-SBC). Doutor em Cardiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Coordenador do Serviço de Ecocardiografia da ONE Laudos.

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