Pronto-Socorro Terapia Intensiva Cardiológica

Esmolol na FV refratária

Esmolol na FV refratária

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Sim, apesar de isso não constar no protocolo oficial de atendimento a Parada Cardiorrespiratória (PCR) do Acute Cardiac Life Support (ACLS) da American Heart Association (AHA), uma opção ao tratamento “final” da Fibrilação Ventricular (FV) refratária é o uso de Esmolol.

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Na verdade, o uso de beta-bloqueadores intra-PCR já é conhecido desde a década de 1960, inclusive com os primeiros guidelines de atendimento à PCR considerando o propranolol como segunda terapia neste contexto, depois da procainamida, prática esta que caiu em desuso após estudos com as novas drogas.

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Apesar da evidência não ser a das mais rigorosas do ponto de vista científico, uma pesquisa rápida no PubMed com “esmolol” e “ventricular fibrillation” encontra pouco menos de 10 publicações de estudos em humanos com a droga (e alguns outros com animais), desde relatos de caso a estudos retrospectivos, em revistas como Circulation e Resuscitation. A primeira referência data inclusive de 1991, publicada por van Dantzig JM et al.

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O mais recente estudo foi publicado por Lee YH et al na revista Ressuscitation em 2016. Neste estudo retrospectivo e unicêntrico na Coréia do Sul, foram analisados os pacientes que se apresentavam em PCR por FV, já haviam recebido pelo menos três desfibrilações, 3 mg de epinefrina, 300 mg de amiodarona e estavam em PCR há pelo menos 10 minutos. Foram incluídos apenas os pacientes cujo ritmo inicial era FV. No total, 16 pacientes receberam esmolol vs 25 controles. A taxa de retorno à circulação espontânea (do inglês, ROSC) foi de 56% vs 16%, com p 0,007. Nesse estudo, também houve maior sobrevida e melhor status neurológico no seguimento de 30 dias, 3 e 6 meses no grupo Esmolol, porém sem atingir significância estatística.

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O racional do uso de beta-bloqueadores nesse é contexto é bloquear os efeitos B1 dos altos níveis de catecolaminas intra-PCR e eventualmente reduzir o limiar de desfibrilação ventricular. Sugere-se ainda benefício em contrapor eventuais efeitos maléficos que a epinefrina pode causar no miocárdio, conforme inclusive identificado em estudos recentes. O principal racional da escolha do esmolol é devido à sua rápida meia-vida.

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E ai, animado pra tentar?

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Referências

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  1. Lee, Y. H., Lee, K. J., Min, Y. H., Ahn, H. C., Sohn, Y. D., Lee, W. W., et al. (2016). Refractory ventricular fibrillation treated with esmolol. Resuscitation, 107, 150–155.doi:10.1016/j.resuscitation.2016.07.243 
  2. De Oliveira, F. C., Feitosa-Filho, G. S., & Ritt, L. E. F. (2012). Use of beta-blockers for the treatment of cardiac arrest due to ventricular fibrillation/pulseless ventricular tachycardia: A systematic review. Resuscitation, 83(6), 674–683.doi:10.1016/j.resuscitation.2012.01.025
  3. Dumas F, Bougouin W, Geri G, et al. Is epinephrine during cardiac arrest associated with worse outcomes in resuscitated patients? Journal of the American College of Cardiology. 2014;64:2360-7.

Sobre o Autor

Rodrigo M. Kulchetscki

Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Paraná. Residência Médica em Clínica Médica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) e em Cardiologia Clínica pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor-HCFMUSP).
Atualmente é Fellow em Arritmia, Eletrofisiologia e Estimulação Cardíaca Artifical na mesma instituição.

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