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Impella x Balão Intra-aórtico: resultados do IMPRESS Trial

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Foi recentemente publicado no JACC o IMPRESS trial, estudo que há muito tempo esperávamos, sendo um comparativo entre o clássico Balão Intra-Aórtico (BIA) e um mais moderno reforço em nosso arsenal terapêutico, o Impella. Trata-se do maior estudo já realizado comparando os dois em um cenário onde o BIA apresenta indicação controversa para uso de rotina, IIb pela diretriz americana e III pela diretriz europeia, na época de inclusões no estudo, a diretriz europeia alterou de II para III, assim, o comitê de ética foi notificado e aprovou o seguimento do estudo, mas na prática, é um grande aliado quando utilizado corretamente.

Qual o cenário avaliado?

Infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento de ST (IAMCSST) + choque cardiogênico + ventilação mecânica invasiva + angioplastia primária.

Qual o desfecho primário?

Mortalidade por qualquer causa em 30 dias.

No total, 48 pacientes foram randomizados 1:1 entre BIA ou Impella, sendo, Impella 2,5 (gerando um máximo de 2,5L/min de débito cardíaco) ou Impella CP (gerador de um débito cardíaco de cerca de 3,7 L/min), todos receberam terapia medicamentosa apropriada, como, inotrópicos e/ou vasopressores.

Tempo de uso médio por paciente foi de 48 horas para o BIA e 49 horas para o Impella.

Resultados:

O desfecho primário foi semelhante para ambos com 46% de mortalidade em 30 dias para o grupo do Impella e de 50% para grupo do BIA com p de 0,92 (não significante). O desfecho secundário era mortalidade por todas as causas em 6 meses e este foi de 50%, exatamente igual nos dois grupos.

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Houve maior ocorrência de sangramento no grupo Impella:

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Fonte: Apresentação do IMPRESS trial no TCT 2016

 

Assim como houve maior crossover/upgrade no grupo BIA que no Impella (3 vs 1)

Sabe-se que este, até o momento, é o maior estudo neste cenário, choque cardiogênico após infarto agudo do miocárdio, houve alguns estudos que fizeram esta comparação, como o ISAR-SHOCK Trial, porém com número menor de pacientes (26 no total, com um óbito antes do implante do device) e a meta primária era avaliação do delta de aumento do índice cardíaco após 30 minutos de implante. A meta secundária era mortalidade em 30 dias. Para a meta primária o Impella obteve maior aumento com significância estatística, porém o desfecho secundário foi semelhante entre ambos.

Críticas ao estudo:

Sabe-se que o n do estudo foi pequeno, porém até agora é o maior já publicado. Há necessidade de maiores estudos e de maior poder estatístico.

Houve crossover/upgrade em 3 pacientes no grupo BIA e de 1 no grupo Impella, aparentemente pouco, mas como o n é pequeno não se sabe o quanto isso interfere nesta análise.

Opinião pessoal:

A importante mensagem deste trial é a de que não se deve criar um preconceito contra o BIA, pois hoje em terapia intensiva, o Impella está em alta e o BIA cada vez mais jogado de canto, porém frente a este resultado, observamos que a mortalidade é semelhante, o BIA pode ser até mais seguro e de fácil aplicação.

Lidamos na Unidade Coronariana do InCOR com pacientes de alta complexidade e o que notamos ao longo do tempo é que, se bem indicado, o balão intra-aórtico é de grande valia e facilita o manejo do paciente em choque cardiogênico.

Finalizo com o resultado desta meta-análise apresentada no TCT 2016 sobre o assunto deste post.

 

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Fonte: Apresentação do IMPRESS Trial e da Meta-Análise no TCT 2016

Leitura sugerida:
  1. Ouweneel DM, Eriksen E, Sjauw KD, et al, Impella CP Versus Intra-Aortic Balloon Pump in Acute Myocardial Infarction Complicated by Cardiogenic Shock: The IMPRESS trial, Journal of the American College of Cardiology (2016).

Sobre o Autor

Cesar Caporrino

Médico com residência em Clínica Médica pelo Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo (IAMSPE). Cardiologista com residência pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor-HC-FMUSP). Atualmente é Fellow da Unidade Clínica de Coronariopatia Aguda do Instituto do Coração de São Paulo (InCor-HC-FMUSP).

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