O Cateter de Artéria Pulmonar, popularmente conhecido como Cateter de Swan-Ganz (devido aos dois inventores do primeiro dispositivo, Jeremy Swan e William Ganz, na década de 1970), é um dispositivo útil em alguns cenários específicos no ambiente da Terapia Intensiva e da Anestesiologia. Com ele, podemos obter dados como débito cardíaco e saturação venosa mista, que nos permitem cálculos de metabolismo tecidual, e das pressões das câmaras cardíacas direitas, pressão venosa central, pressão na artéria pulmonar e pressão capilar pulmonar, que nos permitem calcular a resistência vascular sistêmica e pulmonar, por exemplo. O uso do cateter permanece controverso, não sendo indicado de rotina e com benefício duvidoso em termos de mudança de conduta e benefício em mortalidade nos estudos. No entanto, acreditamos que ele não deva ser abandonado por completo, e que pacientes selecionados podem se beneficiar das informações que ele nos fornece.
Tendo isso em mente, e somando-se o fato de seu uso não ser mais disseminado como era em outros tempos, acreditamos que uma boa parte dos leitores teria interesse uma sequência de posts explicando a maneira (mais) correta de inserção do dispositivo. Por isso, dividimos em 2 partes a sequência correta da inserção deste cateter.
Então, vamos lá.
Primeiro, vamos pensar em quem NÃO devemos passar o cateter. Quais são suas contra-indicações? Absolutas: infecção no local de punção, dispositivo de assistência ventricular direita (raro no nosso meio), e durante circulação extra-corpórea. De todas essas, sinceramente, lembre-se da primeira, já que ela vale para qualquer procedimento. Relativas: INR > 1,5 e plaquetopenia < 50.000 (por risco de sangramento), distúrbios hidroeletrolíticos e ácido-básicos (por risco de arritmias).
Ok, já checamos as contra-indicações. Onde passar o cateter?
De preferência, o cateter deve ser passado pela veia jugular interna direita. O motivo é óbvio: o caminho para as câmaras direitas é mais linear, e as distâncias padrão do cateter nas câmaras cardíacas (que falaremos mais à frente) são medidas a partir da jugular direita. Como todos os acessos vasculares, preferencialmente a punção deve ser guiada por ultrassom. Como primeira alternativa, pode-se utilizar a veia subclávia. Outros sítios podem ser utilizados, porém a inserção do cateter pode se tornar mais difícil, eventualmente necessitando de recursos como fluoroscopia para guiar o posicionamento do mesmo. Como de costume, podemos trocar um cateter venoso central por um cateter de artéria pulmonar através de fio-guia, desde que seja possível manter a técnica asséptica. Caso haja um marca-passo em algum sítio venoso, preferencialmente escolhe-se o lado oposto para inserção do cateter.
Agora que escolhemos o sítio de punção, precisamos separar o material. O material inclui:
1. Introdutor venoso:
2. Cateter de Artéria Pulmonar:
Este é um cateter de artéria pulmonar da Edwards Lifesciences®. Existem diversos modelos, com diferentes vias e funções (que podem medir pressões intra-cavitárias, servir como estimulação cardíaca artificial atrial ou ventricular, por exemplo). Cada modelo tem suas características particulares, porém, em geral, medem débito cardíaco contínuo e saturação venosa mista da artéria pulmonar. A instalação do sistema é bastante intuitiva e deve ser ligado no monitor correspondente (neste caso, um monitor Vigilance®).
3. Material para punção de acesso venoso central: ultrassom vascular, bainha estéril (“camisinha” do ultrassom), gel estéril, anestésico, campos, avental, seringas, agulhas, gaze, etc
(Veja a continuação na parte 2)
Leituras sugeridas
- Guia Rápido para tratamento Cardiopulonar, 2o suplemento, Edwards Lifesciences LLC. Disponível online em www.edwards.com
- Summerhill EM, Baram M. Principles of pulmonary artery catheterization in the critically ill. Lung 2005; 183:209.
- Stouffer, G. A. Cardiovascular Hemodynamics for the Clinician. Blackwell Publishing, 2008.