Insuficiência Cardíaca

O Melhor Dispositivo de Assistência Ventricular Esquerda

Pacientes com insuficiência cardíaca apresentam um amplo ramal de possibilidades terapêuticas. Começando pelos medicamentos, temos desde os mais antigos como a digoxina, a furosemida e a combinação hidralazina + dinitrato de isossorbida, passando pelos velhos conhecidos beta-bloqueadores, inibidores da enzima conversora de angiotensina e antagonistas da aldosterona, até finalmente medicações mais novas como ivabradina e o mais recente inbidor de neprilisina sacubitril/valsartana. Quando a terapia medicamentosa “não dá conta mais do recado”, partimos para opções mais sofisticadas, como o implante do ressincronizador cardíaco, o transplante cardíaco e por fim, uma opção que é por vezes pouco lembrada pelos cardiologistas e clínicos, talvez pela sua pouca disponibilidade: o dispositivo de assistência ventricular de longa permanência.

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Os dispositivos de assistência ventricular tem o início da sua história em 1953, quando a primeira máquina para circulação extracorpórea foi desenvolvida, e a partir dai, pesquisas se voltaram ao desenvolvimento de um coração totamente artificial. Devido à alta taxa de complicações, o foco das pesquisas se voltou à criação de dispositivos de assistência ventricular esquerda (DAVE), inicalmente com a idéia de ponte para transplante cardíaco exclusivamente. Os DAVE de primeira geração (Berlim heart EXCOR, Toratec PVAD) consistiam basicamente em bombas elétricas ou pneumáticas e alguns se mostravam muito grandes para uso extrahospitalar.

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A partir da década de 1990, iniciou-se o desenvolvimento dos dispositivos de segunda geração (principal e mais conhecido deles o HeartMate II), desta vez com bombas de fluxo axial e de tamanho pequeno o suficiente para implante intracorpóreo, trouxe uma nova opção terapêutica para pacientes com insuficiência cardíaca avançada, acompanhado ainda de melhorias quanto a durabilidade, ruído e taxa de complicações. Em 2008, o FDA aprovou a inclusão do HeartMate II como uso para ponte para transplante e em 2010 para terapia destino (quando o dispositivo é implantado mesmo sem perspectiva de transplante futuro).

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Gerações de DAVEs: A. (1a geração) Toratec PVAD; B. (2a geração) Toratec HeartMate II; C. (3a geração) HeartWare LVAD.

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Apesar de eficientes, as taxas de complicações com o uso dos dispositivos de segunda geração ainda era preocupante, especialmente no que se refere a eventos neurológicos, complicações mecânicas dos dispositivos com necessidade de reoperação e sangramentos. Veja na figura abaixo, segundo o registro INTERMACS, o número de implantes de DAVE e a respectiva taxa médica de mortalidade conforme o passar dos anos.

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Registro INTERMACS com o núemro de implantes de DAVEs nos Estados Unidos (à esquerda) e a taxa de mortalidade média desses pacientes com o passar dos anos (à direita)

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De 2014 a 2016, um estudo clínico chamado MOMENTUM 3 envolvendo 1024 pacientes, comparou dois DAVEs, o Heartmate III (bomba de terceira geração, com bomba de fluxo centrífugo por meio de levitação magnética) vs o HeartMate II (fluxo axial), e o follow-up de 2 anos foi publicado em março de 2019 no New England Journal of Medicine. A perspectiva com esse dispositivo de terceira geração era minimizar o atrito entre os componentes do sangue e a estrutura da bomba, hipoteticamente reduzindo complicações e aumentando a durabilidade da bomba.

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HeartMate III – Bomba de fluxo centrífugo por levitação magnética

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Nesse estudo, os pacientes apresentavam uma fração de ejeção de ventrículo esquerdo média de 17% e cerca de 60% implantaram o dispósitivo como terapia destino. O endpoint primário era “sobrevida livre de AVC grave (ou seja, escala de Rankin modificada > 3) e de reoperação para troca de dispositivo”. Uma imagem fala mais que mil palavras:

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Kaplan-Meyer de sobrevida livre de eventos com o HeartMate III (linha azul) vs HeartMate II (linha vermelha)

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A análise de desfechos secundários mostrou uma redução em AVC isquêmico e hemorráigico, sangramento gastrointestinal e trombose de bomba. Este dispositivbo recebeu aprovação do FDA para uso clínico em 18 de outubro de 2018.

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O conhecimento e atualização por parte dos profissionais de saúde quanto a esta opção terapêutica é importante. O futuro reserva novas perspectivas quanto ao acesso a este tipo de tecnologia para pacientes com insuficência cardíaca avançada no Brasil, apesar de ainda distante para o SUS.

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Referências: 

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1. Mehra, M.R., Uriel, N., Naka, Y., Cleveland, J.C., Yuzefpolskaya, M., et al. for the MOMENTUM 3 Investigators. (2019). A Fully Magnetically Levitated Left Ventricular Assist Device – Final Report. N Engl J Med. https://www.doi.org/10.1056/NEJMoa1900486

2. Prinzing A, Herold U, Berkefeld A, Krane M, Lange R, Voss B. Left ventricular assist devices—current state and perspectives. J Thorac Dis 2016;8(8):E660-E666. doi: 10.21037/jtd.2016.07.13

3. The Society of Thoracic Surgeons Intermacs Database Annual Report: Evolving Indications, Outcomes, and Scientific Partnerships Kormos, Robert L. et al The Annals of Thoracic Surgery, Volume 107, Issue 2, 341 – 353

 

Sobre o Autor

Rodrigo M. Kulchetscki

Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Paraná. Residência Médica em Clínica Médica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) e em Cardiologia Clínica pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor-HCFMUSP).
Atualmente é Fellow em Arritmia, Eletrofisiologia e Estimulação Cardíaca Artifical na mesma instituição.

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