Questões geográficas, históricas e culturais fizeram com que as populações que habitam as regiões próximas ao mar Mediterrâneo adotassem um estilo de alimentação baseado no consumo de frutas, legumes, amêndoas, azeite de oliva, vinho, frutos do mar e baixo consumo de açúcares e carne vermelha. Notou-se nesta população uma maior sobrevida livre de eventos cardiovasculares em estudos populacionais. A associação da dieta do mediterrâneo com redução do risco cardiovascular constatada em estudos observacionais foi avaliada em estudos randomizados no intuito de fortalecer a robustez ao conceito. Os mais notórios destes foram o estudo de Lyon Diet Heart Study e o estudo PREDMED, ambos trazem informações importantes embora não definitivas sobre o assunto.
O estudo espanhol de prevenção primária para pacientes de alto risco cardiovascular (PREDMED) é o mais recente dos dois e foi publicado na revista NEJM em abril de 2013. Trata-se de um estudo randomizado de 7447 pacientes alocados em 3 grupos: dieta do mediterrâneo e suplementação de castanhas, dieta do mediterrâneo e suplementação de azeite de oliva, e dieta padrão com baixo teor de gorduras. Esse estudo foi interrompido precocemente por benefício com um média de seguimento de 4,8 anos. O hazard ratio para o desfecho composto (morte por todas as causas, morte cardiovascular, infarto miocárdio e AVC) foi de 0.70 (95% intervalo de confiança [CI], 0.54 a 0.92) e 0.72 (95% CI, 0.54 to 0.96) para o grupo dieta do mediterrâneo com azeite de oliva e dieta do mediterrâneo com castanhas, respectivamente, comparado ao grupo controle.
Ainda que críticas possam existir ao desenho de estudo, seja pela interrupção precoce, seja pelo benefício do desfecho composto decorrente principalmente pela redução dos casos de AVC e não de morte, esse estudo fornece informações que sustentam a dieta do mediterrâneo como uma prática saudável e capaz de reduzir risco cardiovascular. Dele saíram diversos outros estudos analisando desfechos secundários relacionados à redução de risco, a citar a associação desta prática dietética com redução da pressão diastólica, redução da glicemia, menor incidência de diabetes mellitus e regressão de síndrome metabólica.
O mais antigo dos dois é o Lyon Diet Heart Study que avaliou o efeito de dieta do mediterrâneo como profilaxia secundária para paciente após um infarto do miocárdio. Trata-se de um estudo multicêntrico, single-blinded, com cerca de trezentos pacientes em cada grupo. Este trabalho também foi interrompido precocemente com um seguimento médio de 46 meses. Em sua análise observou-se significativa redução do desfecho primário composto de Infarto do miocárdio não fatal e morte cardiovascular (OR 0,28, p=0,0001).
Como podemos observar o padrão de dieta adotado parece sim alterar os desfechos cardiovasculares e, portanto, podem estar inseridos junto ao arsenal disponível para o melhor cuidado do paciente. Como estamos falando em alteração de estilo de vida essas condutas podem se tornar extremamente complicadas de serem seguidas a depender do perfil de cada paciente. É um conhecimento, porém, extremamente útil, especialmente para pessoas em estágio contemplativo para mudança de seus hábitos e que buscam uma vida mais saudável. Por fim, é fundamental pontuar que os ideais da dieta do mediterrâneo não se baseiam em elencar um produto base como elixir milagroso, mas sim consiste num padrão de alimentação que pode ser facilmente empregado para os pacientes brasileiros visto nossa grandeza agrícola e extensão de nosso litoral.
Leitura sugerida:
Jia Shen, et all. Mediterranean Dietary Patterns and Cardiovascular Health. Annu. Rev. Nutr. 2015. 35:425–49
Salas-Salvadó J, Bulló Sleiman D, Al-Badri MR and Azar ST (2015) Effect of Mediterranean diet in diabetes control and cardiovascular risk modification: a systematic review. Front. Public Health 3:69. doi: 10.3389/fpubh.2015.00069
M, Babio N, Martínez-González MÁ, Ibarrola- Jurado N, Basora J, et al. Reduction in the incidence of type 2 dia- betes with the Mediterranean diet: results of the PREDIMED-Reus nutrition intervention randomized trial. Diabetes Care (2011) 34(1):14–9. doi:10.2337/ dc10- 1288