O paciente vítima de infarto agudo do miocárdio pode evoluir clinicamente de várias formas, desde de os que ficam sem disfunção ventricular e recuperam-se rapidamente até aqueles que degeneram em choque cardiogênico por alta perda miocárdica secundária ao evento isquêmico.
Há um censo comum que neste indivíduo, o ‘repouso absoluto no leito’ na fase aguda pós-infarto seria uma conduta universal a ser tomada, mas será que esse conceito é verdadeiro?
Apesar de ainda escassos, os estudos na área vem cada vez mais consolidando segurança e benefícios da mobilização precoce dessa população de coronariopatas, sobretudo quando evoluem sem maiores complicações na fase aguda do IAM, ou seja, aquele doente que está em Killip 1, tratamento de sua doença coronária definida e sem angina persistente limitante (veja figura 1 abaixo apontando as principais contra-indicações a reabilitação cardiovascular).
A importância da reabilitação cardíaca ainda no período intra-hospitalar já é destacada inclusive nas mais recentes diretrizes de IAM com supra da Sociedade Brasileira de Cardiologia, publicadas em 2015.
O tempo ideal entre o evento agudo e o início da mobilização ainda é questão de debate de literatura. A revisão mais importante sobre o tema foi realizada pela Cochrane, em 2007. A maioria dos estudos avaliados eram antigos ( década de 70/80) e com critérios de inclusão diversos. Em síntese, os resultados mostraram que a mobilização do leito de maneira precoce – nesse publicação definida com 2 dias após IAM em pacientes estáveis – não pareceu oferecer risco quando a uma estratégia mais conservadora de ‘repouso’ por até 12 dias.
Contudo, em muitas unidades coronárias, em pacientes estáveis, a mobilização precoce, muitas vezes iniciada em 12-24h se mostra segura, apesar de escassa evidência publicada.
Na literatura nacial, Guimarães, AC e cols, em estudo de 2008, publicado no Arquivos Brasileiros de Cardiologia, mostroram segurança na caminhada de 50 metros em 65 pacientes com IAM Killip 1 ou Angina Instável em período de 45 ± 23 horas pós-internamento. O efeito colateral mais comum observado foi a tontura (29% da amostra).
A segurança da mobilização precoce e reabilitação fisioterápica nas primeiras 12-24h também mostrou-se segura em 51 pacientes avaliados por Catai, AM e cols, em estudo de 2012.
Mensagem final:
- Avalie diariamente seus pacientes quanto a possibilidade de iniciar precocemente sua reabilitação e movimentação precoce ainda durante sua estadia na Unidade Coronária / Unidade de Terapia Intensiva.
- Se não há contra-indicações, avalie a liberação para fisioterapia cardiovascular e mobilização fora do leito o quanto antes.
- Elabore junto a equipe multiprofissional de sua unidade um protocolo que contemple as peculiaridades de seu serviço para promover, dentro do possível, a reabilitação precoce do seu indivíduo.