Cardiologia Geral

Você já ouviu falar na Síndrome Cardiorrenal?

O coração e o rim estão envolvidos na fisiologia básica e suas funções estão estritamente ligadas. Na medida em que a epidemiologia de diversas doenças cardíacas e renais se correlacionavam, percebeu-se também que os mecanismos fisiopatológicos se somavam e eram responsáveis pelo surgimento de um ao outro. Essa interação ocorre de forma bidirecional, na qual a disfunção aguda ou crônica do coração ou dos rins pode induzir disfunção aguda ou crônica no outro órgão. A frequente coexistência de doenças cardíacas e renais pode aumentar significativamente a mortalidade, a morbidade e os custos dos cuidados em saúde dos pacientes. Dessa forma, o termo síndrome cardiorrenal (SRC) surgiu para incluir esse amplo espectro de doenças nas quais o coração e os rins estão envolvidos e que compartilham do mesmo mecanismo fisiopatológico. Uma classificação efetiva da SCR foi proposta no Consensus Conference by the Acute Dialysis Quality Group, em 2008 (Tabela 1). Essa classificação divide essencialmente a SCR em dois grupos principais, a cardiorrenal e renocardíaca, com base na primeira doença que causou o aparecimento da outra (cardíaca ou renal); e tanto a cardiorrenal quanto a renocardíaca são então divididas em agudas e crônicas, de acordo com o início da doença. O quinto grupo dessa classificação integra todo o envolvimento cardiorenal induzido por doença sistêmica.

 

Retirada de Ronco C, Di Lullo L. Cardiorenal syndrome. Heart Fail Clin. 2014 Apr;10(2):251-80.

 

Síndrome cardiorrenal Tipo 1: 

Piora abrupta da função cardíaca levando a insuficiência renal aguda. O termo tem sido usado para descrever as alterações agudas e / ou sub-agudas na função renal em pacientes com Insuficiência cardíaca aguda ou Síndrome coronariana aguda. 

Síndrome cardiorrenal tipo 2:

Anormalidades crônicas na função cardíaca causando  doença renal crônica (DRC) progressiva e permanente. A cardiopatia crônica e a DRC coexistem com frequência e, muitas vezes, o cenário clínico não permite distinguir qual doença ocorreu primeiro. No entanto, cerca de metade dos pacientes com Insuficiência cardíaca apresentam evidências de DRC.

Síndrome cardiorrenal tipo 3: 

Piora abrupta da função renal causando disfunção cardíaca. Um exemplo poderia ser o desenvolvimento de uma síndrome coronariana aguda, arritmia ou insuficiência cardíaca aguda após o desenvolvimento de injúria renal aguda ou após glomerulonefrite aguda ou necrose cortical aguda.

Síndrome cardiorrenal tipo 4:

DRC que contribui para a diminuição da função cardíaca, hipertrofia cardíaca e / ou aumento do risco de eventos cardiovasculares adversos.

Síndrome cardiorrenal tipo 5: 

Condição sistêmica como diabetes mellitus e sepse, que causam disfunção simultânea cardíaca e renal, seja de forma aguda ou crônica.

 

Leituras sugeridas

Ronco, C., Haapio, M., House, A. A., Anavekar, N., & Bellomo, R. (2008). Cardiorenal Syndrome. Journal of the American College of Cardiology, 52(19), 1527–1539.

Damman K, Testani JM. The kidney in heart failure: an update. Eur Heart J. 2015 Jun 14;36(23):1437-44.

Ronco, C., & Di Lullo, L. (2014). Cardiorenal Syndrome. Heart Failure Clinics, 10(2), 251–280

Sobre o Autor

Caio Cafezeiro

Médico com residência médica em Clínica Médica Hospital Santo Antônio (OSID-BA) e em Cardiologia Clínica pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor-HC-FMUSP).

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