Desafio de ECG

Desafio de ECG – Caso 2

 Paciente trazido a sala de emergência por tontura e fraqueza. O que mostra o ECG ?

* As respostas dos ECG sempre virão na semana seguinte acompanhadas do novo desafio.
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Desafio de ECG – Caso 1 – Comentário  – Veja o ECG clicando aqui 
Apesar de não ser uma grande causa de procura ao PS no Brasil,  a hipotermia é uma realidade das unidades de emergência (UE) e salas de recuperação pós anestésicas (RPA) em nosso País.
Ela pode ser primária (relacionada somente a exposição ao frio) ou secundária (quando
alguma condição clínica está associada ou leva ao
quadro de hipotermia), p.e. intoxicação alcoólica, infecção e doenças endocrinológicas, como hipotireoidismo.
Na pratica clínica o que mais encontramos é uma causa
secundária, como intoxicação alcoólica, associada em até 90% dos casos de
hipotermia, acompanhada da exposição a ambientes frios ou banhos gelados – LEMBRE-SE de pacientes submetidos a cirurgias! Hipotermia não é incomum no pós e no intraoperatório.
O quadro clinico depende do grau de hipotermia:
1-Hipotermia leve (32°C-35°C): Resposta adrenérgica com aumento da
pressão arterial, frequência cardíaca, frequência respiratória e tremores de
extremidades
2-Hipotermia moderada (28°C-32°C): Diminuição da resposta adrenérgica
entrando em uma fase de depressão dos sistemas orgânicos  com diminuição da frequência respiratória, cardíaca
e pressão arterial. Os tremores findam e ocorre rebaixamento do nível de consciência.
Nesse momento pode ocorrer arritmias cardíacas como fibrilação atrial e taquicardia
juncional.
3-Hipotermia grave (< 28°C):Piora do quadro de depressão dos
sistemas, podendo ocorrer edema agudo de pulmão, arritmias mais graves como as
ventriculares.
E o eletrocardiograma?
Os achados mais comuns associados a hipotermia são: 
1- Bradicardia sinusal.
2- Ondas P alargadas (em virtude do alentecimento da
velocidade de condução intra-atrial)
3- Complexo QRS alargados (alentecimento da condução
ventricular)
4- Intervalo QT prolongado
5- As famosas Ondas de Osborn (ondas J) aparecem em muitas derivações como uma elevação côncava do segmento no fim do QRS e início do
segmento ST. O mecanismo parece se dever as alterações dos canais iônicos devido
o quadro de hipotermia.
Nosso paciente em questão apresenta no ECG:
Bradicardia sinusal,
complexos QRS alargados,  intervalo QT prolongado e as Ondas J de Osborn em múltiplas
derivações.
O tratamento concentra-se em pesquisar algum fator desencadeando o quadro e realizar um reaquecimento central progressivo, que pode ser feito por vários mecanismos a depender do grau de hipotermia e
do recurso do hospital em que você está trabalhando. Informe-se o que há disponível em seu serviço.
De maneira geral temos: reaquecimento externo passivo, reaquecimento externo ativo, circulação extracorpórea
e reaquecimento externo ativo como irrigação com
solução aquecida de cavidades, como a peritoneal ou pleural, essa última em casos mais extremos e em serviços com experiência, o que não é a realidade nacional.
Mensagem final:

Apesar de estarmos em um país tropical, a hipotermia não é uma raridade. Lembre-se dela em pacientes alcoolizados, moradores de rua e nos seus doentes em peri-operatório. O ECG pode mostrar sinais alertando para a presença dessa condição. 
O melhor meio de diagnosticar essa condição é também o mais primordial: toque no seu doente. Meça a temperatura de todos que dão entrada no seu PS/UTI.
Você sabia?

Osborn não foi o primeiro…
História: a deflexão convoca do ponto J no segmento ST foi
inicialmente descrita por Tomaszewski em 1938. Vários outros médicos descreveram
o mesmo fato, mas, talvez, a melhor descrição seja realmente de Osborn, em 1953, quando correlacionou a presença da onda J com a acidose metabólica provocada pela
hipotermia.
Vale lembrar que onda J não é exclusiva da hipotermia e pode ser
observada em outras patologias, p.e. secundária a traumatismo crânio-encefálico (TCE) , hemorragia subaracnóidea (HSA),
doença de chagas e síndrome de Brugada. 

Sobre o Autor

Felipe Camara

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