CardioOncologia

HAS no paciente com câncer

Novas terapias anti-neoplásicas tem resultado em aumento da sobrevida dos pacientes com câncer, transformando o câncer, em determinadas situações, em uma doença crônica. Contudo, a qualidade de vida desses doentes tem sido em grande parte diminuída, seja pelos efeitos colaterais diretos do tratamento oncológico, bem como morbidades associadas a ela. Há trabalhos, em determinados tipos de câncer, demonstrando que a mortalidade por causas cardiovasculares chega a ser maior do que o próprio câncer, sobretudo em pacientes com estadiamento mais precoce e à medida que o tempo passa (Figuras 1 e 2).

Figura 1. Retirado de Patnaik et al. Breast Cancer Research 2011, 13:R64

Figura 2. Retirado de Patnaik et al. Breast Cancer Research 2011, 13:R64

Dentre as morbidades CV, a hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma das patologias que pode vir a surgir por diversas vias: condições do próprio paciente (p.e. idade), efeito colateral do tratamento oncológico ou através de fatores relacionados à neoplasia em si (p.e. tumores renais). Quando mal controlada, além de dificultar o tratamento oncológico, pode estar relacionada a eventos CV mais graves, como o infarto agudo do miocárdico e o acidente vascular cerebral.

Por diversos mecanismos valores de pressão descontrolados estão associados à piores desfechos em pacientes em uso de terapia com antraciclinas e transtuzumabe. Uma vigilância e tratamento precoce permitem o seu controle e, indiretamente, aumentam a sobrevida dos pacientes por permitirem o uso dos ciclos completos de quimioterapia.

Há uma série de medicações potencialmente associadas ao surgimento de HAS, que atuam por diversos mecanismos e o seu detalhamento não é escopo deste post (Figura 3).

Figura 3. Retirado de Mohammed et al. Cardio-Oncology (2021) 7:14 https://doi.org/10.1186/s40959-021-00101-2

Em geral, o início da terapia pode ser realizado nos casos de valores de PAS < 160 x 100 mmHg, enquanto se inicia o tratamento farmacológico.

Os fármacos preferenciais para o tratamento de HAS, são os inibidores da ECA e os BRAs, embora o uso de betabloqueadores possa ser um opção, sobretudo naqueles com disfunção ventricular ou FEVE limítrofe. Contudo, algumas medicações, como os inibidores de calcineurina e naqueles indivíduos com condições renais ativas (p.e. transplantados renais) os iECA/BRA devem ser vistos com cautela. Naqueles com HAS potencializada pelo uso de corticóide, o uso de diuréticos parece ter um papel mais importante.

Embora não haja estudos direcionados especificamente ao tratamento da HAS em pacientes oncológicos, devemos buscar meta de PA < 130 x 80 mmHg, sobretudo naqueles indivíduos de maior risco CV (p.e. ASCVD Risk > 10%,  diabetes mellitus, doença renal crônica, etc..). Em indivíduos de mais baixo risco, uma faixa alvo entre 140 x 90 e 130 x 80 mmHg, parece razoável.

Leitura sugerida:

Mohammed, T., Singh, M., Tiu, J.G. et al. Etiology and management of hypertension in patients with cancer. Cardio-Oncology 7, 14 (2021). https://doi.org/10.1186/s40959-021-00101-2

Patnaik JL, Byers T, DiGuiseppi C, Dabelea D, Denberg TD. Cardiovascular disease competes with breast cancer as the leading cause of death for older females diagnosed with breast cancer: A retrospective cohort study. Breast Cancer Res. BioMed Central. 2011;13:R64

Sobre o Autor

Daniel Valente

Médico com residência médica em Clínica Médica pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e em Cardiologia Clínica pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor-HC-FMUSP). Especialista em Ecocardiografia pelo InCor-HC-FMUSP e pelo Departamento de Imagem Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (DIC-SBC). Doutor em Cardiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Coordenador do Serviço de Ecocardiografia da ONE Laudos.

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