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Clopidogrel na era dos testes genéticos

O clopidogrel é uma pró-droga que requer as enzimas CYP (citocromo P450) para metabolização na sua forma ativa. Estudos prévios comprovaram o papel da variação genética nas enzimas CYP2C19 com a redução dos metabólitos ativos do clopidogrel. O estudo Tailor-PCI, diante do exposto, foi desenhado para avaliar o impacto da terapia com clopidogrel guiada pelo teste genético nos desfechos cardiovasculares.

O estudo envolveu 5.302 pacientes submetidos a angioplastia coronariana com pelo menos um stent para síndrome coronariana aguda ou doença arterial coronariana estável. Os pacientes foram randomizados para terapia convencional (clopidogrel 75 mg por dia) ou terapia guiada por genótipo (ticagrelor 90 mg duas vezes ao dia para portadores da mutação do CYP2C19 *2 ou *3 e clopidogrel 75 mg diariamente para não portadores).

Os pacientes foram seguidos por um ano, e o desfecho primário era um combinado de morte cardiovascular, AVC, IAM, trombose de stent e isquemia recorrente por um ano. Dos pacientes acompanhados, 27% eram diabéticos, 60% hipertensos, 25% tabagistas e 12% haviam tido IAM prévio. A maioria (84%) possuíam síndrome coronariana aguda, sendo entre 36% e 42% portadores de doença multivascular. A mutação foi encontrada em 1850 pacientes (35% do total). Entre os pacientes portadores da variante genética, o desfecho primário ocorreu em 4% do grupo guiado por genótipo, em comparação com 5,9% no grupo convencional (HR, 0,66; intervalo de confiança de 95% [IC], 0,43-1,02; p = 0,056). Nenhuma diferença foi observada no desfecho de segurança do sangramento maior ou menor (1,9% vs. 1,6%, respectivamente).

Apesar da redução de eventos, o estudo foi considerado negativo pois não houve redução estatisticamente significativa. Apesar disso, foi observado uma tendência nos resultados. Uma análise interessante é que quando se considerava o tempo para vários eventos recorrentes em vez de considerar o tempo para o primeiro evento havia um possível benefício para uma estratégia guiada por genótipo. Assim, um acompanhamento mais longo é necessário, o que já foi confirmado pelos investigadores do estudo, para avaliar se esse possível benefício irá se confirmar, mas até esse momento essa estratégia não deve ser incorporada na prática clínica.

Sobre o Autor

Caio Cafezeiro

Médico com residência médica em Clínica Médica Hospital Santo Antônio (OSID-BA) e em Cardiologia Clínica pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor-HC-FMUSP).

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