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10 tópicos em amiloidose cardíaca – definição/diagnóstico

  1. Amiloidose sistêmica é causada pelo depósito de agregados protéicos fibrilares e insolúveis em vários órgãos, dentre eles o coração.
  2. Cinco agregados podem acometer o coração: cadeia pesada e leve de imunoglobulina, transtirretina, amilóide A e apo11. Os 2 principais tipos de amiloidose com acometimento cardíaco são: cadeia leve (forma AL) e transtirretina (forma ATTR), que pode ter a forma selvagem (ATTRwt – wild type) ou hereditária (ATTRv).
  3. O depósito de fibrilas amilóides no coração causa dano estrututal ao aumentar a rigidez cardíaca e vascular, alterando os mecanismos de contração e relaxamento cardíaco, além de danificar os sistemas de condução.
  4. O acometimento extra-cardíaco pode anteceder o dano cardíaco em até 2-3 anos, com destaque pra síndrome do túnel do carpo ou ruptura do tendão do bíceps. Por isso, devemos ficar atentos ao histórico de saúde do paciente.
  5. A manifestação cardíaca ocorre através dos seguintes achados: Insuficiência Cardíaca com fração de ejeção (FE) preservada (evoluindo para queda da FE numa fase mais tardia), síncope, hipotensão ortostática, bloqueios variados da condução atrioventricular e arritmias, por exemplo, fibrilação atrial.
  6. Alterações sugestivas ao ecocardiograma: espessura do septo interventricular > 12 mm, hipertrofia biventricular, aumento da refringência ventricular, espessamento valvar, espessamento do septo interatrial, presença de estenose aórtica baixo-fluxo baixo-gradiente, aumento de espessura cardíaca após os 60 anos, presença de derrame pericárdico, presença de disfunção diastólica, redução da velocidade do Doppler tecidual, dentre outras. Alterações sugestivas ao eletrocardiograma: espessamento concêntrico das paredes do VE com amplitude de QRS reduzida ou não aumentada na proporção do aumento do VE.
  7. Na análise da deformação miocárdica podemos encontrar alterações que antecedem a queda da FE. Através do uso do Strain Global Longitudinal podemos observar um padrão de queda da deformidade concentrado nas porções médio/basal do ventrículo esquerdo com uma certa ‘preservação’ da região apical, resultando no padrão do ‘apical sparing’.
  8. Na ressonância magnética podemos observar sinais do acometimento da amiloidose através da percepção do aumento da água intra e extra-celular e, sobretudo em fases mais avançadas, do aumento do volume extra-celular, ou seja, para uma dada ‘porção’ do coração, observamos que há mais conteúdo não formado por células cardíacas do que por miocárdio em si. Esse tecido extra-celular corresponde justamente à fibrose e aos depósitos amilóides.
  9. A cintilografia com radiotraçacor ósseo, como o Tecnécio-99m, tem um papel fundamental na detecção da amioloidose por ATTR. No Brasil, o único disponível em maior escala é o Tc-Pirofosfato. Esse traçador acaba se ligando a um componente de cálcio presente em microcalcificações secundárias ao dano cardíaco pelo amilóide. No caso de amiloidose por cadeia leve (AL) há pouca ou nenhuma calcificação, ao passo que a amilóide por transtirretina (ATTR) há um captação intensa do traçador. Justamente por ter esse poder discriminatório entre as formas de amiloidose (AL vs ATTR) o papel da cintilografia é fundamental, uma vez que as rotas terapêuticas são distintas para cada subtipo.
  10. Causas de falso positivo na captação da cintilografia são: amiloide por cadeia leve, captação em pool sanguíneo, fraturas de costelas, infarto agudo do miocárdio, cardiotoxicidade por hidroxicloroquina e outras formas mais raras de amiloidose.

Leitura sugerida:

Posicionamento sobre Diagnóstico e Tratamento da Amiloidose Cardíaca – 2021. Arq Bras Cardiol. 2021; 117(3):561-598

Sobre o Autor

Daniel Valente

Médico com residência médica em Clínica Médica pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e em Cardiologia Clínica pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor-HC-FMUSP). Especialista em Ecocardiografia pelo InCor-HC-FMUSP e pelo Departamento de Imagem Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (DIC-SBC). Doutor em Cardiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Coordenador do Serviço de Ecocardiografia da ONE Laudos.

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