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Arritmia na Gravidez

As arritmias podem aumentar durante a gestação, sendo a dilatação das câmaras cardíacas pelo aumento de volemia e os efeitos da progesterona considerados os mecanismos principais. Extrassístoles atriais, extrassístoles ventriculares e taquicardias supraventriculares são as arritmias mais comuns nesse período. A fibrilação atrial está aumentando em prevalência com o aumento da idade das gestantes e maior número de comorbidades associadas.

As arritmias ventriculares são raras nessa população. O aparecimento de uma arritmia em uma paciente com coração estruturalmente normal deve desencadear uma investigação de doenças associadas, como tireoidopatias e embolia pulmonar. As bradiarritmias são raras e podem estar relacionadas a compressão uterina e aumento de tônus vagal. Como os antiarrítmicos são usados na gestação tanto para condições maternas quanto fetais, seus efeitos colaterais devem ser tolerados por ambos e, se possível, devem ser evitados no primeiro trimestre. Caso a gestante apresente arritmia com instabilidade hemodinâmica, a terapia com cardioversão elétrica deve ser realizada de forma habitual.
Extrassístoles atriais ou ventriculares sintomáticas raramente precisam de tratamento medicamentoso, sendo que betabloqueadores podem ser utilizados nesse contexto. A taquicardia supraventricular é a arritmia sustentada mais comum na gestação, e o mecanismo mais comum é a re-entrada nodal em pacientes sem doença estrutural. O tratamento para essas pacientes consiste na realização de manobra vagal, seguida de adenosina e betabloqueador (preferencialmente B1 seletivos, como metoprolol). Pacientes com Wolff-Parkinson-White podem utilizar propafenona. Em pacientes muito sintomáticas apesar de tratamento clínico, a ablação por cateter pode ser utilizada como último recurso.

A presença de taquicardia ventricular durante a gestação, especialmente no último trimestre, em paciente previamente hígida, deve levantar a hipótese de miocardiopatia periparto. Em pacientes estáveis, a cardioversão elétrica e o betabloqueador podem ser inicialmente utilizados. Amiodarona, como visto no post anterior (cardiopatias na gestação), deve ser evitada por ter risco de ocasionar complicações tireoidianas e neurológicas no feto.

Leitura Recomendada:

1- Halpern e col. Use of Medication for Cardiovascular Disease During Pregnancy: JACC State-of-the-Art Review .J Am Coll Cardiol. 2019 Feb, 73 (4) 457–476

2- Avila e col. Posicionamento da Sociedade Brasileira de Cardiologia para Gravidez e Planejamento Familiar na Mulher Portadora de Cardiopatia – 2020 Arq Bras Cardiol. 2020; 114(5):849-942

Sobre o Autor

Afonso Dalmazio Souza Mario

Graduado em Medicina na Santa Casa de Misericórdia de Vitória - EMESCAM. Residência Médica em Clínica Médica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) e Cardiologia Clínica pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor-HCFMUSP).

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