O objetivo da ‘ponte’ seria que o paciente ficasse o menor tempo possível sem cobertura adequada de anticoagulação.
* Não é o foco desse post discutir as indicações de ponte de heparina
– Sendo assim, uma vez indicada a ponte de heparina, como devemos proceder ?*
Suspende-se a varfarina 5 dias antes do dia do procedimento. Paciente fica sem medicação por 2 dias e, então, no 3 dia antes da cirurgia, inicia-se a heparina subcutânea que será mantida até a véspera da operação.
A dose de enoxaparina é de 1 mg/kg de 12/12h. Há frascos de 20, 40, 60 e 100 mg.
No dia anterior a intervenção temos de realizar 2 coisas:
– Medir o TP: se estiver INR > 1,5 – pode-se fazer administração de vitamina K via oral e solicitar novo INR ao fim do dia. Se já estiver < 1,5, não há nenhum cuidado adicional.
– Suspender a dose noturna da enoxeparina
No pós-operatório, após avaliação e controle local da hemostasia, decide-se, em conjunto com o cirurgião responsável, o momento de se reiniciar a anticoagulação. Habitualmente, reinicia-se a heparina com 24-48h (podendo estender até 72h após) e a varfarina assim que o paciente já estiver com ingesta oral liberada, o que costuma acontecer na própria noite do dia da cirurgia ou na manhã seguinte.
A dose de retorno é a mesma que o paciente fazia uso antes da cirurgia. Habitualmente, demora-se de 5-10 dias até que o INR volte a faixa terapêutica. Isso uma vez alcançado, podemos suspender a enoxeparina.
Veja na figura abaixo um sumário do que foi falado aqui.
* Note que essas recomendações se aplicam ao doente que vem com o controle adequado ambulatorialmente. Pacientes com valores lábeis de INR necessitam de individualização de sua conduta, eventualmente com medidas mais frequentes do TP e esquemas modificados.
– O paciente precisa estar internado para realizar a ponte de heparina ?
Nesse caso, faz-se o controle do TTPa de 6 em 6 horas e ajusta-se para manter uma relação entre 1,5 – 2,5. Suspende-se a medicação 6 h antes do início do procedimento. Pode-se uma sulfato de protamina como antagonista especifico.
Apesar de parecer ‘estranho’ internar um doente em uma sexta para operar apenas na outra semana essa é a realidade de muitos hospitais do SUS em nosso país, onde interna-se o doente para que ele entre na programação cirúrgica da outra semana. Além dessa situação, não é incomum, por exemplo, em locais com dificuldade de realização de determinada cirurgia – revascularização miocárdica, por exemplo – que haja sempre um paciente ‘na reserva’ caso o doente escolhido por algum motivo não consiga ser operado no dia agendado, caso esse paciente em fila de espera seja escolhido e esteja com necessidade de ponte de heparina, o uso de HNF também seria preferencial, pois teria seu efeito rapidamente revertida e a protamina seria de melhor eficácia.
Leitura sugerida:
Perioperative management of patients receiving anticoagulants em uptodate.com/online acessado em set/2015. Disponível aqui
Bridging Anticoagulation. The BRIDGE Study Investigators. Circulation 2012. Disponível aqui