Insuficiência Cardíaca Terapia Intensiva Cardiológica

ECMO-VA: sugestão de protocolo de desmame.

Não há um protocolo unificado de desmame de ECMO-VA. Portanto, o seu desmame é feito baseado na expertise institucional do seu time. Abaixo segue uma sugestão avaliada por Cavarochi e cols em trabalho utilizando ecocardiografia transesofágica com probe específico, mas que pode ser feito através do uso da modalidade transtorácica, desde que a janela ecocardiográfica permita.

ANTES DO DESMAME:

Paciente euvolêmico, afebril, com quadro infeccioso controlado (se for o caso), lesões de órgãos-alvo resolvidas, TTPa na faixa adequada – entre 60-70 segundos.

Estágio 1:

  • Avaliar a função do ventrículo direito e esquerdo com o suporte pleno da ECMO.

Estágio 2:

  • Diminua a suporte da ECMO para meta da metade do suporte pleno. Por exemplo, se o débito pleno está em 6 L/min, tenha como alvo a queda para 3 L/min. A diminuição de deve ser feita a cada 0,5 L/min, com intervalos de 1-2 horas entre cada redução. Observe as variáveis ecocardiográficas. Em caso de piora, por exemplo, surgimento de dilatação de câmaras, piora de função sistólica, aborte o desmame e retome os valores do estágio 1.

Estágio 3:

  • Se você conseguiu atingir metade do débito inicialmente ofertado, fazer um aporte volêmico (20 mL/kg de soro albuminado – no intuito de garantir que o paciente realmente tenha pré-carga adequada) e repita o eco em 1 hora.

Estágio 4:

  • Inicie ou aumento dose de inotrópico até conseguir um desmame para 1,5 L/min (valores menores que esse não devem ser tentados por risco de trombose do sistema!) Após 1 hora, realize novo ecocardiograma.

Após o estágio 4:

  • Se ainda ocorre disfunção biventricular importante, com altas doses de inotrópico: considere avaliação para transplante cardíaco, coração artificial ou finalização de suporte e cuidados de final de vida.
  • Se ocorre melhora da função do ventrículo direito, mas ainda há disfunção grave do ventrículo esquerdo: considere a possibilidade de oferta de dispositivo de assistência ventricular esquerda de maior duração (por exemplo, Heart Mate).
  • Se ocorre melhora da função do ventrículo esquerdo, mas ainda há disfunção grave do ventrículo direito: considere possibilidade de assistência do ventrículo direito isolado.
  • Se ocorre melhora razoável da função biventricular: considere a decanulação.
  • Se optado pela decanulação, retorne a ECMO para o fluxo pleno (valores que estavam presentes no estágio 1) e combine com o time cirúrgico o momento da decanulação, que deve ser feita o mais breve possível.

Mais detalhes podem ser acessados no artigo abaixo.

Referências:

Weaning of extracorporeal membrane oxygenation using continuous hemodynamic transesophageal echocardiography. The Journal of Thoracic and Cardiovascular Surgery. December 2013

Sobre o Autor

Daniel Valente

Médico com residência médica em Clínica Médica pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e em Cardiologia Clínica pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor-HC-FMUSP). Especialista em Ecocardiografia pelo InCor-HC-FMUSP e pelo Departamento de Imagem Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (DIC-SBC). Doutor em Cardiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Coordenador do Serviço de Ecocardiografia da ONE Laudos.

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