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Qual momento ideal de realizar CATE na SCA SSST ?

Quando paciente comparece ao setor de Emergência com dor torácica + supradesnivelamento do segmento ST no ECG não há dúvidas: se disponível, deve-se fazer cateterismo imediatamente.
Conduto, quando se faz um diagnóstico de síndrome coronariana aguda sem supradesnivalemento do segmento ST ( SCA SSST), a abordagem não deve ser tão agressiva em todos os casos.
Baseado na última publicação de revascularização miocárdica do ESC ( European Society of Cardiology) de 2014, temos que, na SCA SSST teríamos 3 extratos de tempo para realizar o CATE baseado em condições clínicas/laboratoriais dos pacientes, quais sejam:

1) CATE ultra-precoce: < 2h da admissão: pacientes de altíssimo risco de desfechos graves.
– Pacientes com angina persistente a despeito das medicações feitas
– Quadro de insuficiência cardíaca aguda / choque cardiogênico
– Instabilidade hemodinâmica franca
– Pós-parada cardiorrespiratória reanimada
– Apresentação com quadro de arritmias ventriculares ameaçadoras de vida
2) CATE precoce: até 24 h da admissão: pacientes de alto risco para desfechos graves.
Pacientes que portem ao menos 1 desses fatores de risco:
– GRACE score > 140 ( disponível para cálculo em qualquer smartphone )
– Aumento ou queda importante da troponina
– Alteração dinâmica do ST ou da onda T ( sintomáticas ou silenciosas)
3) CATE ainda na internação, preferencialmente nas primeiras 72 h.
Na ausência dos critérios para 1 ou 2, pacientes que tenham pelo menos 1 das características:
– DM
– Fração de Ejeção < 40%
– Insuficiência Renal: Clearance < 60 ml/min/m2
– Angina após IAM recente
– CATE recente
– Pacientes com cirurgia de revascularização miocárdica prévia
– GRACE escore de intermediário/alto risco

ATENÇÃO: Recentemente os resultados do estudo RITA-3 trial de 10 anos de seguimento, mostrando que a estratégia precoce ( < 72h) x CATE baseado uma seleção dos pacientes nas SCA SSST não mostrou redução de mortalidade em longo prazo podem vir a embaralhar ainda mais essa discussão. Contudo, essa é a recomendação vigente da ESC e é corroborada pela grande maioria das outras sociedades de cardiologia. 
Lembrando que as evidências nessa área são contínuas e o que é verdade hoje, pode não ser amanhã. Por isso, sempre fique atento as novas informações!
Leitura sugerida:

2014 ESC/EACTS Guidelines on myocardial
revascularization.European Heart Journal (2014) 35, 2541–2619. Disponível aqui.
10-Year Mortality Outcome of a
Routine Invasive Strategy Versus a
Selective Invasive Strategy in
Non–ST-Segment Elevation
Acute Coronary Syndrome
The British Heart Foundation RITA-3 Randomized Trial. JACC VOL. 66, NO. 5, 2015. AUGUST 4, 2015:511 – 2 0. Disponível aqui

Sobre o Autor

Daniel Valente

Médico com residência médica em Clínica Médica pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e em Cardiologia Clínica pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor-HC-FMUSP). Especialista em Ecocardiografia pelo InCor-HC-FMUSP e pelo Departamento de Imagem Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (DIC-SBC). Doutor em Cardiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Coordenador do Serviço de Ecocardiografia da ONE Laudos.

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