Cardiologia Geral

Novos anticoagulantes orais – algumas considerações para tomada de decisão sobre seu uso

Antes de decidir sobre o uso de novos anticoagulantes orais (NOAC) para realizar anticoagulação sistêmica  fique atento a algumas peculiaridades em relação a Varfarina:
1) Verifique a função renal do seu doente. Todos os NOACs (veja aqui) disponíveis até o momento são contra-indicados para disfunção renal grave ou irão requerer algum tipo de ajuste de dose para casos moderados. 
2) Certifique-se que seu doente, caso anticoagulado por Fibrilação Atrial, não seja portador de valvopatia cardíaca grave ou prótese mecânica, cenário no qual esses novos fármacos não foram aprovados.

3) Certifique-se de que a condição pela qual você está indicando anticoagulação já foi testada e liberada para uso com os NOACs. Na dúvida, use Varfarina.

4) Preço: faça as contas junto ao paciente a respeito do custo mensal do tratamento. Tente compartilhar essa decisão ajudando o doente a fazer o cálculo de maneira simples. Muitas vezes, o custo mensal de 150-200 reais pode ser proibitivo a seu doente. Contudo, não é raro encontrarmos pacientes que, ao jogar na balança financeira os custos com ‘pagamento do TP’ + ‘ perda de uma manhã de trabalho para coletar o TP e aguardar passar pelo médico em seguida’ + ‘gastos com transporte – gasolina/estacionamento’ + ‘necessidade de acompanhante’, acabam considerando mais custo-efetivo o uso dos NOACs, sobretudo no início do tratamento, onde o paciente necessita comparecer com mais frequência ao serviço de saúde para ajuste de dose do remédio.
Obviamente, com as novas tecnologias de comunicação, muitas desses custos anteriormente citados podem ser abreviados pelo simples envio do resultado do exame por email/aplicativos para smartphones/ligação telefônica direta com o médico assistente, que já faz o ajuste da medicação sem necessidade de deslocamento do paciente. O serviço de monitorização telefônica do TP já é uma realidade há algum tempo em alguns serviços públicos e privados do País.
5) Necessidade do uso 2 vezes ao dia, caso da dabigatrana e apixabana. Isso pode ser um problema em pacientes já polimedicados. A rivaroxabana, nesse ponto, acaba tendo certa vantagem por ser em dose única.
6) Falta de um exame específico para testar o nível de anticoagulação do paciente. Isso pode fazer falta naquele indivíduos em que há dúvida da aderência ao tratamento. Além disso, para alguns pacientes, é importante que haja alguma comprovação do ‘efeito do remédio’ e eles podem, portanto, optar pelo uso da Varfarina. A sensação de que o ‘TP’ está na faixa pode ser muito tranquilizadora para muitas pessoas.
7) Falta de antídoto específico em caso de sangramento importante, o que não acontece com a Varfarina. ( * apesar que a tendência é que surgem antídotos específicos no mercado, uma vez que já se começaram a sair trials validando alguns fármacos).
O objetivo do post é lhe trazer algumas ferramentas a mais para se por na balança da decisão: Varfarina x NOACs.
O julgamento clínico final deve ser sempre individualizado e compartilhado com paciente/família.

Sobre o Autor

Daniel Valente

Médico com residência médica em Clínica Médica pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e em Cardiologia Clínica pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor-HC-FMUSP). Especialista em Ecocardiografia pelo InCor-HC-FMUSP e pelo Departamento de Imagem Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (DIC-SBC). Doutor em Cardiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Coordenador do Serviço de Ecocardiografia da ONE Laudos.

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