Coronariopatia Ficha Técnica

Afinal, o que é o escore de SYNTAX?

Provavelmente quase todos os cardiologistas (e aspirantes) já ouviram falar de algo chamado SYNTAX Score. Possivelmente, também ouviram falar que “SYNTAX alto vai melhor com cirurgia”. Mas de onde veio isso? O que significa isso? E como podemos usar o SYNTAX no nosso dia-a-dia da prática clínica? 

O SYNTAX Score é um score de gravidade angiográfica das lesões coronarianas. O que isso significa? Trocando em miúdos, quer dizer que ele avalia a dificuldade e a chance de sucesso que da intervenção percutânea (ICP). Ele avalia diversos itens relacionados a placa coronária – como sua localização no vaso, comprimento, calcificação, proximidade com bifurcação, oclusão crônicas, etc – e, quanto maior, mais difícil tecnicamente de se realizar um ICP.

O score se originou do trabalho publicado por Patrick Serruys e colegas no NEJM em 2009, que comparou revascularização cirúrgica com angioplastia usando o stent farmacológico de primeira geração Taxus (Boston Scientific, USA), na época uma novidade, em pacientes com padrão de lesão multi-arterial. O trabalho estabeleceu a metodologia e validou o score, e dividiu a complexidade anatômica em 3 faixas: 0-22, 23-32, e maior que 32. O estudo foi de não-inferioridade, e o que se viu é que o desfecho primário (morte por qualquer causa, AVC, infarto ou revascularização repetida) foi mais comum no grupo da angioplastia (17.8% x 12.4%, p = 0.002) às custas de revascularização repetida (13,5% x 5.9%, p < 0.001) – que é um desfecho que merece ser abordado em outro post. Mortalidade e infarto foram similares em 1 ano, e o grupo cirúrgico teve mais AVC.  

Quando divididos pelas faixas, foi visto que, na faixa de SYNTAX baixo (0-22), para pacientes triarteriais, o resultado era não inferior ao resultado do grupo cirúrgico. Mais: para lesões de tronco da coronária esquerda com SYNTAX até 32, esse resultado também era comparável – outro assunto a ser tratado em outro momento 

Em relação ao cálculo do score propriamente dito, o melhor local para aprender é realmente o tutorial do site do próprio SYNTAX Score. É interessante, no início, calibrar as suas próprias medidas com pessoa mais experientes e ver qual o grau de divergência.  

Além disso, também está disponível no site a calculadora do SYNTAX II Score, que agrega dados clínicos ao SYNTAX Score original, e, com isso, fornece recomendações em relação à estratégia de revascularização preferencial.  

Sem dúvida, o uso do SYNTAX Score (e do SYNTAX II) para auxiliar na tomada de decisão beneficia os pacientes e auxilia na escolha da melhor estratégia de revascularização. Tendo em vista o atual modelo de Heart Team como padrão na discussão de casos complexos, a existência de um score que permita que todos “falem a mesma língua” ajuda na hora de padronizar condutas e balizar a linha de raciocínio.  

Leitura sugerida 

  1. Serruys, Patrick W., et al. “Percutaneous coronary intervention versus coronary-artery bypass grafting for severe coronary artery disease.” New England Journal of Medicine 360.10 (2009): 961-972. 
  1. Farooq, Vasim, et al. “Anatomical and clinical characteristics to guide decision making between coronary artery bypass surgery and percutaneous coronary intervention for individual patients: development and validation of SYNTAX score II.” The Lancet 381.9867 (2013): 639-650. 
  1. Sousa-Uva, Miguel, et al. “2018 ESC/EACTS guidelines on myocardial revascularization.” European Journal of Cardio-Thoracic Surgery 55.1 (2018): 4-90.

Sobre o Autor

Stefano Garzon

Graduado em Medicina pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Médico com residência em Clínica Médica pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e em Cardiologia Clínica pelo no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor-HC-FMUSP). Especialista em Hemodinâmica/Cardiologia invasiva também pelo InCor-HC-FMUSP.

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